Deu no New York Times que o presidente Lula bebe além da conta. Não usou como força de expressão que bebe que nem gambá, muito menos o comparou a Jânio Quadros, que se afogava no vinho do Porto. Nem avançou o sinal, como o Sunday Times ao insinuar que Collor consumia cocaína ao antecipar seu epitáfio “duela a quién doler”. Nem pintou um céu negro na sua honorabilidade como apontado no FHC, o de beneficiário de contas ilegais nas Ilhas Cayman. Nem tiraram do fundo do baú o próprio Lula como deputado federal ao quantificar o Congresso com 300 picaretas e desqualificar Adhemar de Barros e Maluf como trombadinhas na acareação com o verdadeiro ladrão, o presidente de então, de hoje e de sempre, com a sua famosa ouverture, “brasileiras e brasileiros.
Lula não pensou duas vezes, se precipitou e não esperou que a sociedade, por seus diversos canais, se manifestasse e reagisse à altura do porte de um presidente da República, em sua defesa. Para usar de metáfora, deu o cartão vermelho ao jornalista americano Larry Rohter, que, com esposa e filhos brasileiros, merecia permanecer no país, devido à sua manifestação inequívoca de amor. E criou um caso com o Quarto Poder, pior, por fustigar a imprensa americana, ícone da liberdade de expressão. O álcool pôs lenha na fogueira, versada hoje em queimar ditadores e monarcas que se fartaram em amordaçar opiniões e o livre pensamento. E a aprender a lidar com calúnias, o nó da questão.
Está aberta a temporada de caça. A pretexto da liberdade de imprensa. Se, sub-repticiamente, com cuidado para não ofender, já se explorava as deficiências de berço, sua preferência pelo cinema em prejuízo do livro, por que não escolhê-lo logo para pele? Está em jogo a pureza d’alma versus a sofisticação maliciosa, a demonstração da inteligência a serviço do sadismo em combate com o copo. Cada vez que levantar, mesmo sendo água mineral, será clicado impiedosamente. Até o final do mandato.
Dois pesos, duas medidas. Ao aceitar que as tropas do FMI passem em revista a nossa economia, uma mera continuidade dos compromissos assumidos por FHC. Ao se envergonhar com o salário mínimo anunciado, um mero troco jogado na cara do trabalhador. Ao pagar fielmente os juros e facilitar a especulação financeira internacional, esvaziando o discurso do Fome Zero. A privatização como panacéia do soerguimento do país já caiu no vazio, mas o compromisso público de inserir o excluído e desempregado no mercado de trabalho e consumidor não é passível de amnésia. Faz Lula tropeçar nas suas próprias pernas, aquém de seus sonhos.
Acusou o golpe. Ao se sentir moralmente atingido. Confiou demais na sua capacidade de improvisação em ato reflexo à aversão que nutre pela liturgia do cargo, onde o cinismo é a marca indelével com a qual se aprende a engolir sapos. FHC, por exemplo, convidaria Mr. Rother para tomar uma cachacinha na Granja do Torto, a propósito, e a utilizaria para flambar a lingüiça, puxando um cordão de gargalhadas que cada vez aumenta mais. Já Sarney preferiria a pizza. Collor, o uísque Logan. Com os militares, não se brinca. Jânio poria a culpa nas forças ocultas. Juscelino degustaria a fina flor dos alambiques em meio a uma serenata com “Peixe Vivo” e poria o agente imperialista na roda. Dutra abriria o tapete vermelho a seus pés e acertaria os ponteiros com um bingo. Quanto a Getúlio Vargas, promoveria um grande churrasco para debater qual é a melhor, se a carne malpassada ou a bem passada.