Albert Camus, escritor, filósofo, romancista, dramaturgo, jornalista, poeta e ensaísta franco-argelino, desenvolveu em sua trajetória um humanismo baseado na consciência do absurdo da condição humana e na revolta como resposta a essa constatação. Para Camus, essa revolta leva à ação e fornece sentido ao mundo e à existência. O absurdo como estandarte, já observado por escritores que o precederam, tais como Kafka e Dostoiévski, e contemporâneos como Beckett e Ionesco. O humanismo de seus escritos foi fundamentado na experiência de alguns dos piores momentos da História do século XX, Camus como testemunha ocular.
Prêmio Nobel de Literatura em 1957, ao longo de sua carreira, envolveu-se em diversas causas sociais, protestando veementemente contra o regime colonialista francês, que não permitia aos seus conterrâneos pied noir votarem nem terem direito ao tratamento médico na Argélia. Entrou em choque com a ocupação alemã na França quando para lá se mudou no início da 2ª Guerra Mundial, defendendo os exilados espanhóis antifascistas e as vítimas do stalinismo. A sua crítica ao totalitarismo soviético rendeu-lhe diversas retaliações e culminou na desavença intelectual com seu antigo colega Jean-Paul Sartre, em 1952, quando se opôs ao existencialismo e ao marxismo – intransigente, recusou qualquer filiação ideológica. Afirmara “sem liberdade, nada pode existir”, ganhando assim a inimizade de stalinistas e de simpatizantes dos comunistas.
A sua família não via com bons olhos o fato de o menino Albert Camus, sendo pobre, seguir para a escola secundária. Ele sabia que precisavam da renda do seu trabalho e, portanto, deveria ter um ofício que logo trouxesse frutos. Mas foi ajudado por mentores que financiaram sua educação por se tratar de um fenômeno na inteligência. A sua dissertação de mestrado foi sobre neoplatonismo e a sua tese de doutoramento, sobre Santo Agostinho.
Camus fumava desbragadamente e era tuberculoso. A doença lhe deu a real dimensão da possibilidade de morrer a cada dia que o sol se põe, o que foi fundamental no desenvolvimento de sua obra filosófico-literária. Albert Camus morreu em janeiro de 1960, aos 46 anos, vítima de um acidente de automóvel dirigido por seu editor Michel Gallimard, que se espatifou contra uma árvore. Apenas Camus morreu na hora. Para evitar o desgosto do luto, o cachorro resolveu desaparecer.
Na sua maleta trazia os originais de O Primeiro Homem, um romance autobiográfico. Por ironia do destino, nas notas ao texto, ele assinala que aquele romance deveria ficar inacabado – enquanto estivesse vivo, uma obra em aberto, só findando com sua morte, quando já não mais estaria aqui para prolatar seu epitáfio. Camus dizia com frequência que nada era mais escandaloso do que a morte de uma criança e nada mais absurdo do que morrer num acidente de automóvel.
Dentre suas obras que causaram maior impacto, O estrangeiro e A peste, O Mito de Sísifo, O homem revoltado, além de A queda, O artista na prisão e Reflexões sobre a guilhotina. “O que fazer para ser uma outra pessoa? Quando é preciso mudar, não existe outra escolha, senão deixamos de amar a vida, desperdiçando a energia que carrega a nossa luz própria, a santa inocência de perdoar a nós próprios. Não sendo vista nem reconhecida minha carreira de falso profeta, gritando no deserto de ideias e se recusando de lá sair, sempre confrontado com as mesmas questões. Tarde demais. A queda já se faz sentir, irremediavelmente. Ainda bem, eu já havia me cansado de me manter em pé” – em adaptação livre.
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