Acabo de voltar de uma experiência como acompanhante de uma pessoa muito importante pra mim e que quase morreu quando se internou por alguns dias na UPA. Mesmo com ele quase perdendo o ar e parando de respirar, ainda era um dos pacientes mais bem de saúde comparado aos seus companheiros de Unidade.
Gente que precisa amputar a perna esperando, esperando e sofrendo sozinha, sem sequer uma pessoa da família ou amigo para acompanhar. Morador de rua todo quebrado, que levou alta mas não tem ninguém, nem para onde ir. A sofrida irmã de uma terminal de câncer, já em coma, sozinha, dia e noite, em sua maratona de acompanhante, há quase 30 dias, entre idas e vindas. A senhora que ficou verde de um segundo pro outro, na minha frente, enquanto outra ajoelhada chorava e berrava “mãe”… A alegria da tal acompanhante solitária quando eu conversava com ela, e sua tristeza quando me despedi e ela lá continuou na sua sina. A senhorinha que me pediu para olhar seu marido, senhor que acordou quando cheguei, e sem sequer me conhecer, me contou tanta coisa, entre lágrimas de nostalgia e um brilho de gratidão…
Gente, foi tanta coisa que eu vi, ouvi, senti e relacionamentos e expectativas com os quais tive que lidar, que não, eu não me importo com as opiniões contrárias e a agressividade gratuita de pessoas que mal conheço, porque isso não importa. É a morte me batendo à porta que me mostrou o que realmente tem valor.
Que eu tenho saúde, uma linda família, eu tenho emprego, um amor, tenho tantos bons amigos, Senhor, que não, não é essa roubalheira e a corrupção, não é qualquer coisa que vai me derrubar. Porque eu tenho mãos, pés e cabeça para pensar. Tenho um coração cheio de amor pra dar.
E sim, tem gente que prefere reclamar, mas eu preciso agradecer. Não só porque meu pai foi pra casa e está melhor, mas porque eu sou muito maior do que pensava. E a minha vida é muito melhor do que imaginava.
Gente, vocês que sabem o que é perder alguém e pra quem não sabe, também. Aproveitem e agradeçam por sua família hoje. Não reclamem da parte ruim, porque sempre há. Porque quando ela for embora, vocês nem vão lembrar. Vão sentir saudade de ter do que reclamar. Vão se arrepender de não ter vivido, não ter perdoado, não ter se doado como podiam. E vão ver que nada é mais importante do que o amor. Nada. Não importa de que tipo. Amor. Sem amor ninguém vive. Sobrevive. E olhe lá.
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