O que impede uma amizade desinteressada num casal de amigos crescer em proporção geométrica a tal ponto que o povo comentaria “aí tem”? Amor? Não é possível ao homem e mulher conjuminarem idéias, espírito, gênio, inteligência e senso de humor, que, de repente, acaba surgindo o interesse afetivo, a cumplicidade emocional ou simplesmente o tesão? Ou a mulher teria de se valer das costas largas gay? Amparando-se em pessoas que costumam ser mais confiáveis, pelo fato de não as ameaçarem. O interesse do falo é outro.
E se o sexo se inserir na relação desinteressada? Afiançam os interessados, sem que haja amor. Se deixar rolar, é parque de diversões, puro divertimento, a adrenalina da montanha-russa no trem-fantasma que nos conduz ao carrossel do amor. Já que procuraram o caminho das pedras mais fácil, pura covardia, que saibam distinguir amizade de amor e optem pelo que prefere. Pois se confundir alhos com bugalhos, você estará obrigado a se manter a uma distância crítica de seu irmão camarada. E respeitar. Segurar sua onda. Não brincar com o perigo. Sob o risco de perder um ente querido que, por vezes, vale mais do que um consangüíneo.
Ah, não se pode pretender falar a sério sobre o assunto que se pensa logo em amizade colorida! Em ficar. Em apelar para o rasteiro, onde as cobras andam rápido e gavião avoa que nem avião – para dar uma beliscada, meu irmão! Já que não tem tu, vai tu mesmo! Não complica, é como procurar agulha no palheiro, homem e mulher estarem com a mesma proposta.
Contudo, quando a amizade traduz uma verdade que não se encontra descrita em nenhum vernáculo, o sexo fica encurralado. Se deixar o sexo entrar, o encanto da amizade se esfumaça, quando não macula. Quebra a virgindade do princípio. No lugar-comum da procura por um parceiro afetivo, cai-se no afã e confunde-se os canais.
Para o homem, corresponde aos doze trabalhos de Hércules evitar a queda no poço sem fundo do facilitário sexual. Tem que matar um leão por dia para provar a si mesmo que é homem. Norteia-se pela alimentação para se nutrir do básico. Coloca o sexo acima da amizade. Se for mais sofisticado, pelo ato da conquista inspirado em Casanova, beirando o ridículo de esnobar o gozo farto para mantê-la atada à fantasia.
Já o que confunde a mulher é quando busca um parceiro, em busca de um tempo perdido. O sexo tumultuará uma amizade construída a conta-gotas, jóia rara lapidada à luz de velas. Que nos fazem suspirar. Num misto de romantismo e alívio por encontrar uma cara-metade fiel aos princípios, digno de merecer seu carinho e abrir o coração para o que der e vier.
Tem amigo que vira namorado, tem namorado que vira amigo, tem namorado que nunca vira amigo, tem amigo que nunca vira namorado.