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AMIZADES ESTÃO SENDO DESFEITAS COM O BRASIL DIVIDIDO ENTRE NÓS E ELES

Aconteceu na noite de 19 de março no teatro SESC, em Belo Horizonte. Durante a apresentação de “Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos“, o ator Cláudio Botelho, que é codiretor da peça, fez uma manifestação política contra a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, que chamou de “ladrões”. Logo diante do público de Chico Buarque! Pô, se quer criticar Dilma e Lula, que vá cantar músicas do Lobão! O público imediatamente começou a gritar “Não vai ter golpe!”. O ator teria dito: “Ah, não vai ter golpe, então vamos continuar o espetáculo e depois vamos ver se vai ou não ter golpe”. Aí o público interrompeu o andamento do musical com vaias e palavras de ordem. O dinheiro dos ingressos foi devolvido com um pedido de “desculpas” dos organizadores. Em seu perfil no Facebook, Cláudio Botelho ataca a deputada Jandira Feghali como “a mulher que nunca comprou um pente” e diz que ela e o senador Lindbergh Farias são “vermes” que estão mortos. Se refere ao ex-presidente Lula como um “calhorda” que está dividindo o Brasil e diz que Lula “quer os militares pois está na cara que ele vai tentar uma saída armada, ao estilo venezuelano, cubano ou boliviano. Ele já deve estar com as Farc preparadas para agir aqui”, repetindo as mesmas sandices da extrema-direita brasileira. Em contradição bipolar, sugere que os militares não vão ter outra opção senão entrar em cena para trazer de volta a governabilidade, irritado com toda essa gente de vermelho nas ruas e com a divisão entre “nós e eles” provocada por Lula.
Botelho chamou as manifestações do dia 18 de março contra o golpe de novela da Record, e Lula, um faraó maluco; e que, quando se consumar o processo de impeachment, válido e democrático, seus súditos não irão aceitar que seu líder não é Deus, é bandido e que irá para a cadeia. Indo fundo em sua ideologia de súdito da Broadway, digo, Wall Street, compara Lula a Getúlio Vargas e ressalta que o caudilho gaúcho, pelo menos, teve hombridade e se matou – lembrando em sua perversidade o filme de 1950, “A Malvada” de Joseph L. Mankiewicz. Em outras palavras, é um analfabeto político que demonstra seu caráter faturando em cima do Chico Buarque e pisando na História do Chico Buarque sem dó nem piedade. A última que havia cometido esse crime tinha sido a cantora Simone, que hoje caiu no ostracismo.
O que causa espanto é que o enorme talento e inteligência de Claudio Botelho em dirigir, adaptar, escrever e montar inúmeros espetáculos tipo Broadway, mudando a cara do teatro brasileiro, reconhecido no exterior, que inclusive o deixou rico, convive, numa paródia ao “Médico e o Monstro”, com um cidadão de mente absolutamente estúpida, arrogante, preconceituosa, a disseminar ódio de um caráter nitidamente fascista e a proferir conceitos próprios de um fiel a Bolsonaro ou de viés macarthista. O que não condiz com o meio artístico, que consagra a liberdade de expressão, mas não para defender o aviltamento do ser humano e abrir caminho para o nazismo. Espero que não termine como Simonal. Vai correr um sério perigo.
Como se perde amigos com essa guerra surda no Brasil entre nós e eles! Pessoas a quem tínhamos respeito, ou mesmo admirávamos, provocando uma cisão com danos irreparáveis até se resolver o Brasil dividido, sem prazo para encerrar uma guerra sem fim, enquanto tivermos que passar a limpo o ódio entre as classes sociais.

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Antonio Carlos Gaio
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