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ANIMAIS NOTURNOS

Animais Noturnos

Um sensacional e sofisticado thriller do esteta Tom Ford saído do Festival de Veneza com o Grande Prêmio do Júri, e que vem sendo apontado como potencial concorrente ao Oscar de 2017. Tom é bem conhecido na indústria da moda por ter ressuscitado a italiana Gucci à beira da falência nos anos 1990, e que rapidamente se tornou uma celebridade antes de criar a sua própria grife, que hoje fatura cerca de US$ 1 bilhão por ano. Eis que ele retorna ao terreno do cinema em “Animais Noturnos”, onde conta uma belíssima e tensa história com um apurado senso de estilo, abrindo o filme com uma espetacular e provocadora sequência em que mulheres ultra obesas e nuas dançam, fazendo parte de uma instalação prestes a inaugurar na galeria da personagem vivida pela excelente Amy Adams, marchand bem-sucedida que abandonou as aspirações da juventude em troca da vida de conforto e de luxo, até começar a questionar o seu próprio estilo de vida ao ler o manuscrito de um novo livro enviado pelo ex-marido (o estupendo Jake Gyllenhaal). O roteiro merecedor de prêmio costurado pelo mestre Tom Ford é desenvolvido em três níveis: no presente de Amy, na sua memória e na leitura do livro de Jake – o melhor do filme, um filme dentro do filme, que narra o horror no deserto do Texas vivenciado pela família de um professor perseguido por brancos sulistas nazistoides. Em clima repugnante e violento, porém cheio de vida, em contraste com o de Amy em Los Angeles, sem imaginação, afetado e artificial. Tanta criatividade e ousadia de Tom Ford encontram correspondência em sua declaração de que todos os homens deveriam ser penetrados ao menos uma vez na vida – a experiência ajudaria os homens a entender as mulheres. Na contramão da onda do conservadorismo que varre o planeta graças à imbatível sétima arte.

Antonio Carlos Gaio:
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