Ainda pairam no ar refluxos das influências do Manifesto Antropofágico de 1926, elaborado por Oswald de Andrade, propondo que o Brasil devorasse a cultura estrangeira e criasse uma cultura revolucionária própria. A deglutição do Bispo Sardinha pelos caetés, como mote. Considerar as culturas negra e indígena como bárbaras, se confrontadas com o beletrista modelo francês, era desperdiçar o que havia de mais original num povo em formação. Na cultura plural, o caminho das pedras para ser livre, criativo e irreverente.
Companheiro Zé Dirceu! Companheiro Genoino! Companheiro Gushiken! Tesoureiro Delúbio! Secretário Sílvio Pereira! Caíram em desgraça, em virtude do patrimônio do Carequinha ter se multiplicado estratosfericamente nas relações com o governo. Foram derrubados como pinos de boliche.
Os companheiros estão devorando o presidente Lula, acabando com seu governo. Num antológico banquete antropofágico, quando pretendiam implantar uma República com caldo de cultura popular às custas da fome zero. O bispo Sardinha, pelo menos, foi comido pelos inimigos.
Prejudicando irreversivelmente a imagem do governo num futuro que se projetava ambicioso, com a descrença de seu eleitorado em sua capacidade de representá-lo na proposta de mudança. O quarteto mais influente agora se compõe de Palocci, Thomaz Bastos, Renan Calheiros e Sarney, depois de não ter conseguido levar Delfim Netto para as Comunicações.
O dilema de Lula entre não saber de nada e passar por alienado ou saber de tudo e passar por conivente. Entre deslumbrado ou omisso. Entre confiar demais nos companheiros ou não ter peito para dar um basta. Entre viajar nas asas do aerolula ou ler o contrato antes de assinar.
Diga-me com quem andas que eu te direi quem és. Despir-se do mito para ser estadista. Descobrir que o discurso é falso se não pôr em prática o que o povo espera. Não há casamento que resista se mudar de camisa na hora de fazer amor.