Por muitos anos, cientistas tentaram multiplicar células em laboratório, mas elas nunca vingavam. As células normais morrem, enquanto as cancerígenas são programadas para se replicarem sem parar.
Apesar de extraídas sem o consentimento de sua família, pois não havia leis na época que considerassem o procedimento ilegal, as células do tumor de Henrietta Lacks vêm sendo usadas e servindo há 62 anos para testar novos remédios, estudar como uma doença evolui, descobrir se uma droga é segura e avaliar os efeitos da poluição no corpo humano. Também permitem investigar a ação de vírus e bactérias. Vacinas, como a da poliomielite, a quimioterapia, a reprodução in vitro e o mapeamento genético só se tornaram possíveis com culturas das células de Henrietta.
Mas pesou na consciência tanto benefício em prol da humanidade sem que sequer o nome de Henrietta Lacks fosse mencionado nas pesquisas que usaram suas células e que foram publicadas em revistas científicas. Precisou-se de 74 mil trabalhos científicos, 10 novas pesquisas concluídas por dia, com células que poderiam dar três vezes a volta na Terra e que se mostraram surpreendentemente estáveis com uma capacidade de reprodução estimada em 2013 em 50 milhões de toneladas, para Henrietta Lacks ser reconhecida por sua inestimável contribuição para o avanço da medicina.
Depois de morta, para se transformar num espírito que iluminou incontáveis caminhos para se descobrir a cura de diversos males. Graças ao seu tumor cancerígeno, que avivou nossa memória do quanto o racismo é capaz de segregar espíritos elevados como o de Henrietta Lacks.
Para que também pudéssemos conceber e aceitar por que algumas pessoas morrem tão cedo, sem aparente razão. Ou por que escolhidas para serem portadoras do bem para a Humanidade. Funcionando como verdadeiros emissários de Deus para nos advertir que a reprodução de células cancerígenas não é a materialização do Mal a preponderar sobre o Bem, segundo o fatalismo de pessimistas que enxergam o mundo sem saída. Ao contrário, seria o Mal a serviço do Bem.