O filme “Augustine” acompanha o grande neurologista Jean-Martin Charcot em 1885, em suas investigações sobre a histeria, antes de Freud vir a ser seu aluno em Paris. Mas se a sexualidade permeou a obra de Freud, em Charcot se apresentava sob a forma de histeria, a se julgar por Augustine, dentre outras pacientes em situação muito mais crítica a exigir um hospício. A retratar um tempo em que a repressão falava mais alto, seja por um cristianismo aplicado com rigor ainda inquisitorial, a sociedade se pautar por costumes severos ou pela ignorância total a respeito de sexo e, por isso mesmo, se constituir num enorme perigo para a manutenção do status quo, sobrando a histeria para a mulher – como não podia deixar de ser. Para não afrontar a sociedade se rebelando contra tudo e contra todos, a mulher vazava toda sua insatisfação pelo canal da histeria. A diretora Alice Winocour detona a comunidade científica da época nas demonstrações de Dr. Charcot com pacientes histéricas para seus colegas, ao hipnotizá-las para remover sintomas histéricos e transformar Augustine em sua principal cobaia, movido pela ambição do reconhecimento para suas teses sobre a histeria, que evoluiria para um quadro mais amplo e complexo sob a visão de Freud: a neurose, originada de um conflito na infância do indivíduo.
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