Diário 2022 – Dia 1
Eu hoje, já há alguns bons “hojes”, tenho medo das crônicas, talvez porque já são muitas as doenças crônicas e as crenças e descrenças atômicas em minha não vida. Já faz muito tempo que não tenho tido a coragem que eu tinha de escrever tudo e dizer e apenas ser, sem contrapartidas.
Talvez por causa da superficialidade, especialidade dos dias e mídias atuais, essas tão médias, para não dizer baixas redes sociais, que nos enredam num repeteco de tiques-toques de dedos frenéticos, clicando como quem quer mais e nunca se satisfaz.
Hoje, quando muito, me enveredo pela poesia, porque ela é sucinta e brinca com as verdades que não quero entregar de cara lavada, sem floreios. Já sofri muito por viver sem freios, mas também sei que é preciso um caminho do meio entre a verborragia frenética e impulsiva da ingênua idade e toda essa minha recente falta de coragem.
A verdade é que eu não tenho mais gostado tanto de viver. Quanto mais conheço o mundo, mais quero desconhecer. E ao mesmo tempo eu gosto, mas não me gosto mais como antes. Sinto saudade da ilusão distante. Eu era feliz e não sabia.
(Mariana Valle – 09/07/2020)