Ela sempre foi doce
E era como se fosse
Obrigatório continuar sendo.
O problema é que havia problemas
Enquanto ela ia vivendo,
Então azedava,
Dava um gosto ruim na boca.
Chamavam-na de louca,
Destemperada.
Olha que coisa engraçada:
Justo quando mais tinha tempero!
Pimenta-malagueta
Que ardia só com o cheiro.
Quem a provava assim
Tinha medo de engolir até o fim
E não entendia nada
Quando ressurgia adocicada.
Ela sempre foi doce.
Ele não sabia?
O fato é que os outros (des)gostos
Lhes faziam companhia.
Às vezes, se afundava no mar
E ficava tão salgada
Que era difícil de tragar.
Mas eles queriam mais
E terminavam sempre com sede
Quando caíam em sua rede.
Ela sempre foi doce.
Eles não sabiam?
Um dia ela ingeriu
Do próprio veneno.
Percebeu que o que vinha de fora
Era café pequeno.
Precisava se cuidar,
Prestar atenção ao que comia.
Ela sempre foi doce.
Ela não sabia?
Hoje, carrega uma horta inteira
Dentro de si
E continua a ouvir
Que só pode ter um sabor.
Ela não se importa
Seja com quem for.
Se eles têm paladar pobre,
Mal têm olfato
E carecem de tato,
Não é problema dela
Que sente o cheiro de longe,
Até do outro lado da tela.
A doce pimenta salgada
É todo dia regada
Com muito amor!
E esteja sozinha ou não
Nunca mais se azedou.