Madrugada mal dormida em Ipanema e Leblon com o ronco dos voos de helicóptero do governador Sérgio Cabral, o espoucar de bombas de efeito moral e o quebra-quebra de caixas automáticos dos bancos, lojas de roupas e do Lidador (bebidas). Percebe-se nitidamente dentre os baderneiros mascarados, playboys ou garotos Zona Sul interessados em quebrar associados a pivetes voltados para pilhar no santuário dos ricos. Não cabe aos manifestantes coibir os vândalos. A polícia não saiu em perseguição pelas avenidas com receio de repetir o que havia acontecido no cerco ao Palácio das Laranjeiras, em que os moradores de áreas próximas tiveram de inalar gás lacrimogêneo e pimenta, e sofrer a reprovação da opinião pública, favorável aos manifestantes. Mesmo porque se a polícia fosse atrás, seria olho por olho, dente por dente. Chegamos a um impasse chamado revolucionário em que se sabe, de outros carnavais, que a classe média urbana só vai até certo ponto por não suportar confrontos armados e com sangue – salvo quem não tem nada a perder. Faz parte da gênese de movimentos políticos que visam a mudar o status quo da ordem pública viver o impasse entre saber evoluir e amadurecer o processo e perder o foco no dilema de defender reformas de base ou cortar cabeças, dispersando e enfraquecendo o movimento para dar lugar à repressão. O Brasil goza da fama de imprevisível – a combinação de Copa do Mundo com eleições presidenciais em 2014, com o mundo assistindo nossa primavera florir, prejudicará interesses em jogo e atiçará a sanha de oportunistas. Caberá aos turistas decidirem se vale a pena desfrutar de pão e circo e ao povo separar o joio do trigo num panorama altamente intricado. Não vá depois a burguesia, em sua eterna inconstância, indefinição de propósitos e cagaço, reclamar que o povo é imbecil e não sabe votar. No final das contas, o impasse e o consequente enfrentamento de forças sempre será ideológico e não uma mera redefinição de prioridades e gerenciamento de recursos para a saúde e educação.