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BELEZA É FUNDAMENTAL

As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental. De 1959 para cá, muita água passou debaixo da ponte. Já dá para contradizer Vinícius de Moraes, sem que se ponha em risco os poemas que reinventaram o amor e a excelência de sua sumidade. Desde que o poetinha foi alfinetado por Tom Jobim sobre quantas vezes ele ainda iria se casar: “quantas forem necessárias”.
Hoje, rostinho bonito nenhum sustenta o dia-a-dia de artista, empresário, político, salvo se predomina uma essência caquética no fluir da paixão. Há que ter substância, não necessariamente cultura, para exercer uma personalidade que desfaça a impressão de mulher indecisa à mercê do primeiro gavião que despontar no céu de brigadeiro. Há que submeter à prova o arsenal de caras que a mulher possui e pô-las em risco nas escolhas a que está sujeita – senão afunda. Sem permitir que o homem se meta a passar a peneira para separar as pérolas do pensamento dela.
Contudo, a beleza é fundamental para reforçar a auto-estima de um buraco deixado para trás na memória de suas antepassadas. A realidade agora é ingressar com o pé direito no mercado do amor e do trabalho, sob a batuta do carrasco da boa aparência. Tratar de competir em pé de igualdade para levar a melhor. Toda concorrência acaba convergindo para um funil, o que privilegiou a competição entre as mulheres e deixou os homens em segundo plano, no capítulo a quem a beleza serve. Tão ao pé da letra que se tornaram escravas da estética, do consumo no vestir e do poder que a atração confere. Superbonita virou uma ciência, objeto de graduação em faculdade, embora não caiba ainda doutorar-se em sedução.
Voltadas para seu umbigo, espelho e pose, tornam-se insatisfeitas em seu universo egocentrado. Nutrindo um verdadeiro pavor de alcançar o patamar de antes só do que mal-acompanhada.
Em total, completa e absoluta consonância com o homem quando sofre uma desilusão amorosa, em outras palavras, quando sacaneado: só pode ter partido de uma mulher bonita. Todos se espantam se for o contrário, principiando o escárnio da vítima por sofrer sem motivo algum. Mas se ele mesmo bate no peito para realçar seu nível de exigência: “mulher, pra mim, tem que ser bonita!”. Dando margem ao pouco caso do amigo do peito: “é essa a musa decantada em verso e prosa? Que falta de autocrítica!”.
Foi pensando nisso que Leila Diniz rompeu com a educação do colégio de freiras e dessacralizou a gravidez como algo sublime para sexy e digno de ser exibido. Desmistificou o grotesco da barriga e acabou com o pudor. Suscitando em algumas o orgulho do corpo perfeito, com nenhum quilo a mais além do feto. Até os seios ficam apetitosos de tão cheios e pontudos. A ponto de fazer sucesso nas ruas e inveja nos que não sacaram que maternidade e sensualidade podiam coexistir. O desejo quebrando mais uma barreira. Um sonoro “gostosa”, a cantada sobrepujando a santidade da grávida. Um bebê crescendo dentro de uma outra plenitude maior ainda, pois ser mãe não é perder a capacidade de atrair.
Bem, quem não tiver outro remédio, socorra-se dos feios, que bonitos lhe parecerão. Ao menos são bons de cama, assim se justificam quanto às suas escolhas e descansam nos louros de suas conquistas. Ora, de tanto contar vantagem, um tantinho aqui e outro acolá, dia sim e o outro também, água mole em pedra dura vira um tantão assado, ao descobrir na mulher feia que beleza é fundamental.

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Antonio Carlos Gaio
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