O que é melhor pensar no romper do ano? No Ano Velho ou no Ano Novo? No fazer um balanço do que passou e não volta mais, ou no sopro do desejo do que viria bem a calhar? Na alienação ou na reflexão? Nas vacas gordas do pensar positivo para 2009, ou nas vacas magras de crises que vêm e vão, cujo intuito é só alimentar a depressão que anuncia, invariavelmente, o fim do mundo?
Se já existiu Ano Novo em que você, sozinho nesse marzão cheio de peixe, encontrou a sereia que cantava a mais bela das canções. No seu regaço pôs sua cabeça, que adormeceu no maior dos sonhos. O que aquieta pesadelos e os reduz a fotos em preto e branco, imagens de um passado superado por um vento alentador que não promete, renova.
Se já existiu Ano Novo em que, no seio de sua família, se sentiu um estranho no ninho. Se num casamento, desfalecido pelo tempo, divisou a porta de saída. Se, no meio de amigos, o abatimento generalizado não o contaminou. Se os fogos de artifício não o impediram de dormir com medo de acordar. E constatar que o branco das roupas como uniforme rompeu o ano e, se não o deixou com a alma limpa, ao menos, lhe deu uma certa dignidade, de querer fazer o certo, pagar as dívidas, se reconciliar com seus pais e adotar um filho.
Por que não começar a realizar a partir do Ano Novo como marco zero? Só porque vem a tentação e derruba suas frágeis idéias? Só porque a falta de convicção o abala e o Ano Novo começa a repetir o Ano Velho? Não mais distinguindo o velho do novo e descaracterizando sua personalidade, já alquebrada por não conseguir encontrar um rumo.
Não é por outra razão que se enche a cara no Ano Novo.