Não irá alterar o panorama caótico e sombrio que se apodera do Brasil dizer que Bolsonaro é caso patológico ou doentio (Miriam Leitão) ou nutre desprezo alarmante pela vida humana e acumula paranoia, narcisismo, transtornos de ansiedade e humor (Merval), irritado com os limites impostos pela democracia, quando o ignorante, primário e despreparado só agora descobriu que não pode tudo no exercício do cargo, dando ataques de “quem manda é ele, e mais ninguém” ou se comparando ao rei do jogo de xadrez. Ou desconectado do que assevera, conferindo nota 10 à economia da ditadura militar, para quem se julga, no tema, um zero à esquerda, em vista de que a ditadura nos legou uma superinflação crônica e deu o calote na dívida externa. O cafajeste do Bolsonaro dessa vez mostra que faz parte do time dos carniceiros do Pinochet quando ofendeu Bachelet, a ex-presidente chilena e alta comissária de Direitos Humanos da ONU, e principalmente a memória de seu pai, que veio a morrer de infarto aos 50 anos em decorrência de torturas provocadas pela ditadura do general Pinochet, e que se estenderam à sua esposa e à própria filha – acusando-o de querer transformar o Chile numa sucursal de Cuba a justificar o emprego dos serial killer da tortura. Com sua postura presidencial, Bolsonaro nos coloca à margem do Ocidente, excetuado os EUA do Trump, e faz do Brasil um marginal à imagem e semelhança de si mesmo e de seus filhos. Usando de forma suja a história do Chile para seus propósitos de defender o direito de policiais civis e militares saírem atirando na cabeça de quem eles julgam serem bandidos, e pouco se importando com bala perdida. No intuito de rebater Bachelet, que criticou seu governo sempre pronto a celebrar o golpe de 64, cuja negação dos crimes de Estado pode propiciar um enraizamento da impunidade e reforçar a mensagem de que agentes do Estado estão acima da lei e autorizados a matar sem prestar contas. Possesso, por novamente invadirem a sua praia, tal como Macron, e se sentir cercado por sua mania de perseguição, o soberano brasileiro disparou com o que pensa sobre a mulher independente: “Bachelet assumiu o cargo na ONU por não ter o que fazer!”. Enquanto sua esposa Michelle continua sumida, entregue às tarefas domésticas, para que não dê margem a seus inimigos de a destroçarem. Um sujeito infeliz com tamanha mente pequena ou um pobre infeliz o tal do Bolsonaro? Que dúvida!
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