Quem muito fala dá bom dia a cavalo. Quem tem muita necessidade de conversar acaba dando bom dia a cavalo. Na maior parte do tempo é traído pela tendência de falar sem pensar. Dirige-se a quem quer que seja para conversar. É quando demonstra sua personalidade insaciável em se comunicar. A ponto de causar inveja nos reprimidos de nascença, que o acusam de invasivo e espaçoso, tamanho o trânsito dentre os sociáveis e a capacidade de fazer amigos na vida mundana.
Fala demais, sem medida, um tagarela a caminho de destrambelhar que costuma levar inadvertidamente os seus problemas familiares para fora do âmbito doméstico. Se assim for, um bisbilhoteiro que não guarda segredo e facilmente fala sobre tudo o que ouve. Podendo resvalar para leviano, se com sua língua ferina dá conhecimento a outrem localizando fatos e identificando pessoas numa roda de amigos. É quando entrega tudo de bandeja e enxuga o veneno que escorre dos cantos da boca.
Em compensação, não faz distinção nem discrimina. Não é hipócrita, diz a verdade doa a quem doer. Bate de frente com as mulas que não andam e com os ordenadores de etiqueta que exigem modos – componha-se!
A carreira de dar bom dia a cavalo é interrompida pelo cansaço quando descobre que o cavalo não responde, não existe ida-e-volta nessa conversação. Considerado linguarudo que leva-e-traz, percebe que desperdiçou energia quando deu pérolas a porcos. Passa a selecionar melhor as amizades. Tira do seu caminho biltres, parvos e songamongas.
Freud localizou o bom dia a cavalo, na sua origem. Na necessidade de falar precocemente com os adultos, já que as crianças não têm todas as respostas para satisfazer àquela fase dos porquês. Cresce brigando contra a própria sombra, irritando-se com a máxima: saber silenciar, em certas ocasiões e nos momentos oportunos, pode ser mais sensato.
Quem dá bom dia a cavalo arrepende-se com freqüência, de tanto se meter em assuntos alheios e tornar-se inoportuno. Mas não abre mão do seu carisma e poder de atração que exerce nos petit comités, arraiais, festanças e – por que não? – nas massas.
Apenas quer ser valorizado, pois tem um recado a dar.