O filme sobre o amor entre dois vaqueiros, disfarçado ao longo de 20 anos, enquanto mantinham casamento e filhos em paralelo. Trata da impossibilidade de amar ou de se entregar a um relacionamento. De querer que tudo se exploda para ficar ao lado de quem ama e não riscar o fósforo. Acendendo a fogueira de um debate pontuado por críticos que ridicularizam os protagonistas como caubóis – ou “cauboiolas” -, quando casais heteros padecem da mesma interdição, por motivos diversos, e não somam coragem para vencer uma suposta incompatibilidade. Reforçando a solidão que grassa no caráter da humanidade.
Espanta ver tamanha acidez em gente tão condescendente com filmes de super-heróis e que adoram reafirmar seus dotes masculinos classificando atrizes que fazem perder o tino como potrancas. Já entram no escurinho do cinema para não gostar da mensagem do filme, ao não conseguirem se identificar com personagens gays que vacilam num mundo áspero cujo sotaque arranha os ouvidos. Baixam o sarrafo na apatia, nos sentimentos represados através de silêncios, no conflito não aflorar, na paixão aparecer furtiva, na carne pouco exposta, nos desejos mais sugeridos do que mostrados, em se tratando de dois homens machos que se amam virilmente.
Quando são retratados pelo diretor Ang Lee a léguas do estereótipo do homossexual afeminado, fora da lógica de comportamento de homens que, pelo lugar e época em que vivem, não poderiam ser. Mantendo distância de uma suposta anormalidade e do caráter cômico e purpurinado com que habitualmente filmes do gênero douram a pílula.
Chegam ao cúmulo de exigir um happy end para o filme. Consideram o desfecho uma broxada geral com o intuito de castigar sodomitas. Tantos pruridos e não-me-toques de homófobos em contraposição à defesa extremada por parte de heteros neutros.
O armário que antigamente escondia o amante da madame tá assim de coelho para tirar da cartola. Bastou um poderoso libelo antipreconceito de rara sensibilidade para desencadear uma tempestade de gelo numa tentativa de esfriar os ânimos dos que choram as inúmeras chances com que a vida nos homenageia e não aproveitamos. Homens e mulheres, com os gays na platéia.
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