Queres sempre a mesma coisa na passagem do Ano Velho para o Ano-Novo? Um renovar eterno de esperanças só por desligar e religar a chavinha como quando hoje o computador dá um pau ou a imagem congela em qualquer artefato tecnológico? Num fechar e abrir de olhos! Como num passe de mágica estivesse batendo uma toalha de mesa recém-suja de detritos de uma farta refeição de Ano-Novo e surgisse o que procura e perdeu, não se sabe onde o demônio o escondeu.
A quem pretende enganar, meu caro ilusionista? Que, todo ano, sai ano, volta e meia com a mesma cantilena, o mesmo refrão de escola de samba, a mesma copiosa chuva de esperanças, a alentar uma vida que só necessita de verdade ser reconstruída, passo a passo, com muita disciplina e perseverança, atento aos mínimos detalhes que vão modificando o todo, quase que imperceptivelmente.
Para que tanta badalação na passagem do ano? Para dissimular o que não conseguiu realizar ao longo do Ano Velho e se investir de empáfia e arrojo típicos de um conquistador ávido por desbravar o desconhecido? Superanimado para comemorar o Ano-Novo? Melhor dizendo, bêbado, entregue a luxúrias, disposto a encontrar no abraço apertado seios que demandem amor puro, propensos a selar um pacto com estabilidade – o bico do peito acusa.
Olhar para o negrume do Universo e ver os fogos de artifício espocarem no céu em múltiplos matizes de cores, filamentos e contornos a inspirar esperança, calando crentes, ateus e incrédulos por poucos minutos, para depois a manada sair urrando, gritando, chorando no êxtase do desequilíbrio cronológico. Salva-se do desvario o beijo de amor, eternamente mais forte e intenso do que as frustrações que vêm à mente como num filme, ao correr do balanço do Ano Velho.
Ou toda essa avalanche morro a baixo é puro azedume, acidez, descrença própria de quem colheu o que plantou, típico de quem já morreu e não sabe, perda de contato com a juventude, ou mesmo matou a criança que existia dentro de si.
Só não podemos evitar o ingresso no Ano-Novo com medo do que vai nos acontecer com base nos desastres, enfrentamentos e amizades que se foram, senão é perder a esperança de vez. O que não faz sentido. O sentido da vida.
Diante do exposto, prossiga em direção ao horizonte sem hesitar e Feliz Ano-Novo!