A perspectiva do país do futebol ser o cenário da Copa do Mundo mais conflituoso de todos os tempos apavora, criando um clima de tensão – Mussolini na Copa de 1938 e o regime militar argentino na Copa de 1978 mantinham a ditadura sob controle. Típico do surrealismo que é o Brasil colocar em campos opostos o seu futebol, respeitado no mundo inteiro por seu estilo que criou uma marca graças ao seu poder ofensivo capaz de feitos inéditos, e os seguidos movimentos grevistas e manifestações contra um evento esportivo e historicamente cultural associado à imagem do Brasil pentacampeão. A grande incógnita é se as manifestações em torno de “Não vai ter Copa!” prolongar-se-ão para depois da abertura do Mundial, quando a bola rolar e o futebol se converter em tema cotidiano que excluiria os demais. O grande clássico entre os bilhões para construir estádios e infraestrutura de modo a atender milhões de pessoas se movimentando por distintas cidades e regiões do país para assistir e torcer em partidas de futebol versus as precípuas obrigações do Estado com saúde, educação, transporte e segurança. A ira também se volta contra a prepotência da FIFA, entidade igualmente corrupta como o Brasil, que lucra vorazmente com a exploração financeira que cerca a Copa do Mundo. As manifestações adquirirão um significado maior do que em 2013, se realizadas, pois o mundo todo estará olhando para a Copa, a ouvir como há dinheiro para estádios e infraestrutura se não há para… o mesmo mantra de sempre. O que era para ser motivo de grande alegria, comemoração e festejos com a Copa do Mundo no Brasil, já que futebol é a nossa mola mestra, até para resgatar o fracasso de 1950, transformou-se em preocupação e falta de animação. Será que fomos escolher justamente esse momento em que o planeta convergirá sua atenção para o Brasil para nos tornarmos menos alienados? É sempre tudo ao contrário no país tropical. As coisas acontecem ao ritmo de surtos, de súbitos arrotos e do que der na telha.