O lugar comum da fé é a crença nos dogmas particulares que constituem as verdadeiras religiões. A fé pode ser raciocinada ou cega, segundo Allan Kardec. A fé cega nada examina, aceita sem atestar tanto o falso como o verdadeiro e choca-se, a cada passo, com a evidência e a razão. Em excesso, leva ao fanatismo e ao descompasso com o progresso dos conhecimentos.
Embora deva se reconhecer que, na prática, cada religião pretende se investir da posse exclusiva da verdade e impor a fé cega. O que significa confessar sua impotência no afã de demonstrar que está com a razão. E, vulgarmente falando, fé não se receita, e muito menos se impõe.
Ninguém está impedido de possuir uma fé, nem mesmo entre os que mais lhe resistem, ainda que admitam que nada melhor do que crer. Mas o fato é que os incrédulos não conseguem. Se as provas são muitas ao redor deles, por que, então, se recusam a vê-las? Indiferença nuns, noutros, medo de serem forçados a mudar seus hábitos, na maioria, orgulho, negando-se a reconhecer uma força que lhes é superior, já que teriam de abrir mão de velhos caprichos que exacerbam nossa personalidade, acostumados ao exclusivismo e ao desperdício de energias sagradas, quando já deveríamos ter alcançado o sublime serviço referente à nossa própria edificação.
Por outro lado, em certas pessoas a fé é inata, bastando uma faísca para desenvolvê-la, sinal evidente de progresso advindo de vidas passadas. Já acreditaram e compreenderam, trazendo ao renascerem a intuição do que sabiam. O contrário significa naturezas em atraso, assimilação com dificuldade, educação por fazer, e o será, se não nesta encarnação, numa outra.
A resistência do que não crê se deve menos a ele do que à maneira como se lhe apresentam as coisas. A fé necessita de uma base, e essa base é a compreensão perfeita daquilo em que se deve acreditar. E, para acreditar, não basta ver para crer; é preciso, sobretudo, compreender.
Retomada a intervenção espiritual, sem ainda ser presencial na Fundação Marietta Gaio e realizada na residência de cada médium e de quem se encontra sob tratamento, segundo o calendário da Fundação, com todos obedecendo ao regime de confinamento em face da pandemia do coronavírus, a centésima décima terceira intervenção espiritual, em 17 de julho de 2020, efetivou-se sob a égide da leitura de “Vinha de Luz”, 28 (“Em peregrinação”) e estudo preliminar sobre os itens 6 e 7 (“A fé religiosa. Condição da fé inabalável.”) do capítulo 19 (“A fé transforma montanhas”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
A fé cega não pertence mais a este tempo. É justamente o dogma da fé cega que produz hoje o maior número dos incrédulos, por ela querer se impor exigindo a renúncia ao raciocínio e ao livre-arbítrio, preciosos dons do Espírito.
É contra essa fé, principalmente, que se levanta o incrédulo. Não admitindo provas, ela deixa no Espírito um vazio, daí nascendo a dúvida. A fé raciocinada, aquela que se apoia nos fatos e na lógica, não deixa atrás de si nenhuma dúvida, já que se acredita porque se tem a certeza, e só se tem a certeza quando se compreendeu.
Somente é inabalável a fé que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da Humanidade.
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