Lucas não conheceu Jesus pessoalmente, somente através dos apóstolos. Médico, escreveu um dos Evangelhos, no qual narra a história do nascimento milagroso de Jesus, bem como seu ministério de curas e suas parábolas, finalizando na ressurreição e ascensão. Se a vida de cada um não consiste na abundância das coisas que possui, assevera Lucas, o Espírito Emmanuel complementa para fugirmos à retenção de qualquer possibilidade sem espírito de serviço.
Fugirmos como o diabo da cruz. Pois não levamos nada daqui quando partimos. E nos concentrarmos na abundância dos benefícios que devemos espargir e semear. As próprias águas benfeitoras da Natureza, quando represadas sem preocupação de benefício, costumam se transformar em pântanos e formar zonas infecciosas.
A avareza não consiste só de mesquinharia. É uma convergência doentia que ataca quem vive à cata de compensações, entesourando-as em torno de si. Há que saber apreciar os benefícios da posse temporária, pois os que acumularam fortuna e autoridade não raro conseguiram atrair a perversão dos que mais amavam e o ódio dos que lhes eram vizinhos, culminando por arruinar a si próprios.
Prosseguindo a intervenção espiritual, sem ainda ser presencial na Fundação Marietta Gaio e realizada na residência de cada médium e de quem se encontra sob tratamento, segundo o calendário da Fundação, com todos obedecendo ao regime de confinamento em face da pandemia do coronavírus, a centésima quadragésima quarta intervenção espiritual, em 2 de julho de 2021, efetivou-se sob a égide da leitura de “Vinha de Luz”, 52 (“Avareza”), de Chico Xavier pelo Espírito Emmanuel, e estudo preliminar do capítulo 23 (“Moral estranha”), itens 16, 17 e 18 (“Não vim trazer a paz, mas a divisão”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
As primeiras lutas do Cristianismo duraram séculos. O tempo dos embates e das perseguições acabou. Agora o homem enfrenta as questões de ordem moral. Não mais provêm de um único foco, surgem de todos os pontos do globo terrestre e abrirão mais depressa os olhos aos cegos. Reconheça-se, contudo, ainda entrincheiradas, as forças do orgulho, do egoísmo, ambição, cobiça, do fanatismo cego a nos barrar a passagem, quando os homens transparecem seus verdadeiros interesses. E que estamos cansados de um combate sem solução que só acarreta desolação e leva o distúrbio até o seio das famílias. Aos confrontos fratricidas, seja consanguíneo ou não.
Porquanto é corriqueiro se tirar vantagens sempre que as oportunidades se lhes aparecem. Não se trata só de defender seus interesses legítimos, mas sim de ir além. De olho no que o outro tem de gordo, alumia e faísca que nem uma pedra preciosa, examina o perfil do incauto, investiga os pontos fracos para dar o bote e se apropria do que não é seu, pois que em suas mãos fará melhor uso do esbulho.
Moral estranha arrancar benefícios de outrem para lhe conferir melhor destino se de sua posse. E não ser considerado roubo, apenas inveja lupina.