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CAPÍTULO CXLVIII – O DOM DE CONVERSAR COM OS ESPÍRITOS

Os baluartes da ciência, com legítimas exceções, costumam ser grandes presunçosos. No sacerdócio, fanatizam sem compreender a verdadeira fé. Na política, se tornam tiranos, no comércio, exploradores, e nas finanças, somam-se às sombras contra os interesses coletivos. No mundo materializado, os maiorais são os primeiros a serem servidos e contam com a obediência compulsória da coletividade. Embora dispostos ao ensino e ao conselho e prontos ao combate espetaculoso, desde que com advertências humilhantes e vaidosas, poucos se insurgem com o desejo de servir, em silêncio, e reconhecendo o mérito em Deus quanto às suas iniciativas. Todos se acham os autores de seus próprios empreendimentos.
Apesar de no mesmo mundo onde os ambiciosos por liderar regurgitam, em meio a seus amplos vícios, uma grande parte do que realmente importa em nossas vidas não pode ser vista, medida ou qualificada, apenas sentida. Se a mediunidade faz parte da condição orgânica de qualquer pessoa. Qualquer um pode ter, assim como ver, ouvir e falar, ou mesmo dela abusar, em função de seu livre-arbítrio. Se o dom de se comunicar com os espíritos fosse dado apenas aos mais dignos, quem ousaria pretendê-lo? E onde estaria o limite da dignidade e da indignidade?
Prosseguindo a intervenção espiritual, sem ainda ser presencial na Fundação Marietta Gaio e realizada na residência de cada médium e de quem se encontra sob tratamento, segundo o calendário da Fundação, com todos obedecendo ao regime de confinamento em face da pandemia do coronavírus, a centésima quadragésima oitava intervenção espiritual, em 27 de agosto de 2021, efetivou-se sob a égide da leitura de “Vinha de Luz”, 56 (“Maiorais”), de Chico Xavier pelo Espírito Emmanuel, e estudo preliminar do capítulo 24 (“Não coloqueis a candeia debaixo do alqueire”), itens 11 e 12 (“Os sãos não têm necessidade de médico”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Os sãos não têm necessidade de médico, mas os enfermos, sim. A quem se juntam os pobres e deserdados, todos carecendo de maior necessidade de consolação. A quem se reúnem os cegos dóceis e de boa-fé, implorando para ver, enquanto os orgulhosos se creem possuidores de toda luz e sem necessidade de nada.
O dom da mediunidade é extensivo a todas as camadas da sociedade, tanto ao pobre quanto ao rico, tanto aos sábios, para fortalecê-los no bem, quanto aos pervertidos de caráter, para corrigi-los em sua deformação moral. O não aproveitamento do dom de conversar com os espíritos implica na perda dessa faculdade e de não poder se desculpar por sua ignorância, concomitante a facilitar o acesso aos maus espíritos obsediá-los e enganá-los, além das aflições comuns que atingem os corações endurecidos pelo orgulho e egoísmo.
É como se nos puséssemos a ouvir a voz de Deus, que fala através de nosso coração. Ela tem uma lógica própria e um poder de persuasão incomparável, nada a bloqueando ou silenciando. Por vezes, investe contra a nossa vontade, não se deixando enganar pelas nossas justificativas falsas, salientando o nosso erro. Se, ao contrário, incentiva a nós irmos em frente. Se soubermos escutá-la com atenção redobrada, a voz de Deus será a bússola que norteará todas as nossas ações. Se vivermos em sintonia com o amor, a voz ecoará cada vez mais forte a indicar um caminho diferente.
A mediunidade não implica necessariamente em relações habituais com os Espíritos superiores. Trata-se simplesmente de uma aptidão para servir de instrumento útil aos Espíritos em geral, deles recebendo assistência e segurança por cultuar a excelência das qualidades morais, pelas quais devemos zelar.

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Antonio Carlos Gaio
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