Há quem negue a realidade da pandemia apressadamente proclamando que a contaminação decresceu, o pior já passou, encaminhando-se para o fim depois que imunizado a maior parte do rebanho. De forma a afastar o medo quanto a qualquer ameaça, evidenciando querer vir à tona o quanto antes e voltar ao mundo anterior. E não aprender com o que está acontecendo. Reflexo, aliás, de como já lidava com as coisas antes da pandemia. Quando a maioria dos doentes recuperados afirma que muda tudo, desde a visão material da vida até em se preocupar com os mais pobres, suas carências e como fazer para incluí-los na sociedade que também os discrimina. Especialmente, são os que sobreviveram ao pulmão tragado pelo coronavírus e submetidos aos respiradouros enquanto em coma, e que valendo-se da fisioterapia para reaprenderem a respirar, comer, andar, falar, chegaram a essa conclusão.
Outros lamentam terem crescido distante de seu pai, que saía para trabalhar às 4h da manhã, carregando malas na rodoviária até às 7 da noite e chegando em casa extenuado, mas nunca sem trazer o que faltava para comer graças às gorjetas. Não tinha muito mais para dar, mesmo porque também não recebera do pai austero. Nunca abraçou, beijou, trocou qualquer expressão de carinho com os filhos. Não havia essa intimidade. Eis que uma trombose cerebral em plena pandemia mudou a perspectiva de sua existência, recolhendo-o a um mundo à parte e o definhando. Foi a vez dos filhos cuidarem do pai, que veio a morrer aos poucos, até que Deus o libertou dessa expiação, não sem antes os filhos repetidas vezes o carregarem no colo, dizendo que o amavam e o beijando incontáveis vezes. Quando se tornarem pais e vierem a amadurecer é que se darão conta do quanto seu pai os amava ao abrir armários, gavetas e latas de mantimentos para examinar o que faltava. E do ruído peculiar que daí advinha e que sentirão saudades.
Dando continuidade à investigação espiritual sobre a pandemia do coronavírus inclusa nessa mesma série, a centésima vigésima intervenção espiritual, em 4 de setembro de 2020, em minha residência e em regime de confinamento, se realizou sob a égide da leitura e estudo preliminar da Parte Quarta (Das esperanças e consolações), Capítulo II (Das penas e gozos futuros), constantes do livro de Allan Kardec, “O Livro dos Espíritos”, em que me debrucei sobre o tópico “Expiação e arrependimento” desdobrado nas questões 990, 992, 997 e 998 respondidas por Kardec, assistido por espíritos regeneradores. A escolha do aludido tópico se deveu à tentativa de conectá-lo ao confinamento ou à pandemia (ambos se confundem).
O arrependimento por seus atos costuma ocorrer no estado espiritual, mas também pode ocorrer no estado corporal, se bem compreendeis a diferença entre o bem e o mal, fazendo com que, já na vida atual, o Espírito progrida, se tiver tempo de reparar suas faltas. O ser humano sempre pode melhorar, ainda mais se chamado à atenção pela sua consciência, ao exibir a imperfeição na qual reincide.
O que mais causa terror na pandemia, tanto quanto o próprio vírus, é a assustadora falta de interesse e cuidado para com nossos semelhantes, quando não usamos máscara, não evitamos aglomerações e não mantemos o distanciamento regulamentar, pois todos nós somos, em potencial, um agente contaminador.
Todo espírito tem que progredir incessantemente, esclarecendo-se pelo estudo, pela reflexão e pelo sofrimento advindo das expiações. A expiação se cumpre durante a existência corporal mediante as provas a que o Espírito se acha submetido e, na vida espiritual, pelos sofrimentos morais, inerentes ao estado de inferioridade do Espírito.