O pensamento corrente, comum a diversas doutrinas religiosas, é que o homem será punido pelo mal que houver aqui praticado. Se conseguir se livrar da justiça dos homens, com certeza não escapará à justiça divina. Embora se ignore como exatamente se dá tal punição, a ideia geral é que ele terá de prestar contas dos males cometidos.
É preciso distinguir as penas futuras a que estamos sujeitos por conta dos descaminhos de nosso livre-arbítrio das decantadas labaredas do Inferno, descritas em 1320 por Dante Alighieri, em sua obra “A Divina Comédia”, que teria a forma de um funil que segue em direção ao centro da Terra, onde Lucífer estaria à espera. Será que o homem ainda precisa dessas imagens impressionantes no lugar de uma filosofia que ele julga não poder compreender? O que lança mais o ser humano no materialismo: ao não se aceitar uma parte, rejeita-se o todo. Se lhe ensinaram como verdade incontestável um ponto que o remete a um filme de terror, ou lhe deram uma figuração fantasiosa, quem nos garante que o resto seja verdadeiro?
O Espiritismo não demoniza no sentido vulgar da palavra, mas admite os maus Espíritos, e que frequentemente praticam o mal, suscitando maus pensamentos, embora não sendo seres à parte, criados para o mal e perpetuamente votados ao mal, espécie de párias da Criação, como algozes do gênero humano. São seres atrasados, ainda imperfeitos, aos quais Deus reservará o futuro, o que não impede de se autorreformarem, deixando que o amor invada seu coração.
Prosseguindo a intervenção espiritual, sem ainda ser presencial na Fundação Marietta Gaio e realizada na residência de cada médium e de quem se encontra sob tratamento, segundo o calendário da Fundação, com todos obedecendo ao regime de confinamento em face da pandemia do coronavírus, a centésima vigésima terceira intervenção espiritual, em 25 de setembro de 2020, efetivou-se sob a égide da leitura da “Vinha de Luz”, 33 (“Vê, pois”) e estudo preliminar do capítulo 20 (“Os trabalhadores da última hora”), item 3 (“Os últimos serão os primeiros”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Os primeiros trabalhadores que chancelaram as etapas iniciais de progresso da Humanidade foram os profetas e Moisés, sequenciados no decorrer dos séculos pelos apóstolos e mártires; pelos Pais da Igreja, padres de grande cultura, dentre eles, Santo Agostinho (a alma não tem dimensões espaciais e é composta por um tipo de substância adequada para governar o corpo e que é parte da razão) e São Tomás de Aquino (o homem não vive por acaso, sua razão de viver é a felicidade, as riquezas materiais seriam a falsa noção da felicidade, e uma vez encontrada, nada impede de se perdê-la, para então se iniciar uma nova busca até o fim da vida humana); pelos sábios, filósofos e, por fim, pelos espíritas, que foram anunciados e profetizados desde a vinda do Messias. Sendo os últimos a chegar, os espíritas se nutrem dos trabalhos intelectuais de seus antecessores, pois o homem deve herdar conhecimentos e impulsioná-los rumo ao horizonte que se pretenda delinear, especialmente se seus resultados são coletivos, já que a solidariedade é abençoada por Deus e bonita por natureza.
A Doutrina Espírita não é dogmática, nem preconiza a existência de verdades absolutas fundamentadas na fé, se sobrepondo à razão para acomodar e justificar certos posicionamentos farisaicos. Vale-se da reencarnação como seu pilar para o Espírito, chamado para prestar contas de sua vivência terrena, compreender a continuidade da tarefa interrompida, mas sempre retomada, e nela sentindo que incorporou o evolucionismo alinhavado por seus antecessores e amadurecido pela experiência. Para avançar junto com todos, trabalhadores da primeira e da última hora, em magnífica unidade que harmoniza todas as coisas no Universo, graças à solidariedade que liga todos os seres presentes ao passado e ao futuro.