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CAPÍTULO XLIX – NÃO RECLAME DAQUELES QUE SÃO INSTRUMENTOS DE SUA PROVAÇÃO

Minha prima e eu somos inimigos figadais desde crianças, a despeito dela ser de uma geração acima da minha, se não for mais. Com divergências políticas, religiosas, de preferência clubista, entre o que é moderno ou antiquado, otimista ou pessimista, ser do contra ou a favor, pertencemos a mundos completamente distintos. Nunca fomos às vias de fato nem tampouco passamos a limpo nossas diferenças, até que finalmente nos afastamos em face de parentes que forçosamente nos vinculavam terem morrido. O que constituiu um alívio por não sentir a menor simpatia por ela e vice-versa. Decorridos cerca de 20 anos de exílio recíproco, quase sem contato nenhum, tive de ligar para sua casa em busca de sua filha, que é muito minha amiga. Minha prima me atendeu declarando-se saudosa, de sentir minha falta e pedindo para eu aparecer e lembrar os velhos tempos. Arrependi-me mais tarde de não corresponder à cordialidade e boa temperança, mostrando-me ainda enrijecido pelo desgaste do tempo e intransigente.
A quadragésima nona intervenção espiritual, em 24 de novembro de 2017, se iniciou com cânticos no intuito de abrir caminho para os espíritos curadores, prosseguindo com a leitura e comentários sobre o item 4 (“Pagar o mal com o bem”) do capítulo 12 (“Amai os vossos inimigos”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Há que se tomar cuidado com a progressão da inimizade e com o consequente rancor, que vai ganhando corpo e tomando conta de nossa mente. Equivale a tomar banho numa praia tranquila sem conseguir prever que, repentinamente, o mar irá encrespar e ondas enormes se precipitarão, ganhando corpo e começando a engoli-lo, sem que encontre uma saída para salvar sua pele. É natural nos defrontarmos com pessoas opostas a nós, que logo rotulamos como intolerantes. Quando ser vítima dessa gente que consideramos insuportável para se conviver faz parte das provações que devemos sofrer e passar a ver os problemas de forma menos cruel, seja em que situação for. Só assim o mar irá se curar da ressaca e você poderá pôr o pé em terra firme e sair andando da correnteza, são e salvo.
Se não lastimar as provações, também não deverá reclamar contra aqueles que delas são os instrumentos, agradecendo a mão que lhe forneceu a ocasião de mostrar sua paciência e sua resignação.

Antonio Carlos Gaio:
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