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CAPÍTULO LVI – NÃO SOEIS AS TROMBETAS DIANTE DE VOSSAS BOAS OBRAS

Por ter sido detectada interferência espiritual em mim, foi a primeira vez que não pude adentrar no salão de intervenção e limitar-me à antessala, igualmente escura e serena, até por não haver ninguém, mas sem ouvir o que era dito e comentado pelos médiuns, o que soou estranho e raro. Será que foram refluxos da viagem ao Porto, Lisboa e Andaluzia, que me fez ausentar do tratamento por um mês? Quando possuído pela crença de que bons augúrios adviriam, lágrimas verteram de meus olhos na missa matutina da Catedral de Sevilha diante do fracasso de mais uma tentativa de reaproximação de outros ramos da família por meio de nossos ancestrais através da espiritualidade.

A quinquagésima sexta intervenção espiritual, em 11 de maio de 2018, se iniciou com cânticos no intuito de abrir caminho para os espíritos curadores, prosseguindo com a leitura e comentários sobre os itens 1, 2 e 3 (“Fazer o bem sem ostentação”) do capítulo 13 (“Que vossa mão esquerda não saiba o que faz vossa mão direita”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.

Que a mão esquerda não saiba o que faz a mão direita significa fazer o bem a outrem sem se exibir, sem ostentação. É renunciar à satisfação que o aplauso dos homens proporciona. Quantos não obram apenas na esperança de que essa ajuda tenha grande repercussão? Que, em público, dariam uma grande soma e, ocultamente, nem um centavo! Aqueles que procuram sua glorificação pelo bem que fizeram já receberam sua recompensa na Terra. Foram vistos; ficaram satisfeitos por terem sido identificados: é tudo o que terão. Deus não lhes deve mais nada.

Se existe a moeda real, há também a fingida, o simulacro de pessoas que escondem a mão que dá, tendo o cuidado de deixar à mostra uma parte de sua ação, para que alguém observe o que fazem. E aqueles que se esmeram em pesar seus benefícios sobre o beneficiado, participando-lhe as dificuldades e sacrifícios que se impôs por ele, obrigando-o ao reconhecimento? O bem feito não lhes traz o menor proveito já que o lamentam, e todo benefício lamentado é moeda falsa e sem valor.

Tenhais cautela para que vossas boas obras não sejam vistas, não operando para soar as trombetas diante de vós, como fazem os hipócritas de modo a serem reconhecidos. O importante é respeitar os sentimentos do beneficiado de maneira que seu amor-próprio não seja atingido e protegendo assim sua dignidade, não desfigurando um serviço em seu favor em esmola.

O sublime da verdadeira generosidade é quando o benfeitor, invertendo os papéis, encontra um meio de aparentar ser ele próprio o beneficiado ao dirigir palavras afáveis, delicadas, habilidosas e sutis a pessoas declaradamente descrentes ou insatisfeitas com sua existência, que se recusam a não mais abrir sua intimidade, se é que um dia o fizeram. Compreendendo além da vulgaridade comum as coisas do mundo, ao elevar-se acima da vida presente e se identificar com a vida futura.

Antonio Carlos Gaio:
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