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CAPÍTULO LXV – INCÊNDIO

Tem sido uma tônica ver o meu destino cruzar com ateus, já não é de hoje. No passado, usualmente discutindo problemas relacionados à nossa existência e a ouvi-los contestar se existe um tamanho Deus para permitir tantas injustiças, pobreza e miséria correndo à larga no mundo. Atualmente, costumo esbarrar na falta de fé, não necessariamente religiosa, e sim na vida quanto aos seus projetos e causas com que se envolvem, baixando o nível de motivação. Comigo solidário na dor quando ela os abraça. Sempre respeitando seu ponto de vista e sem jamais pretender alterar sua maneira de pensar, procurando encontrar uma brecha no seu coração para nele chegar. O beijo no rosto, a retribuição de um amigo. Seguro-lhe as mãos para demonstrar que ele não está sozinho no luto pela sua mulher recém-falecida. Ele pede para eu não me esquecer dela na intervenção espiritual: “Conto contigo!” – o despertar da fé.
A sexagésima quinta intervenção espiritual, em 28 de setembro de 2018, se iniciou com cânticos no intuito de abrir caminho para os espíritos curadores, prosseguindo com a leitura e comentários sobre o item 15 (“A beneficência”) do capítulo 13 (“Que vossa mão esquerda não saiba o que faz vossa mão direita”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Deus mandou pesar o saco de bondades (boas ações) de cada um de dois homens que acabaram de morrer. O saco maior e mais pesado ressoava o metal que o enchia, do rico que deu muito em vida. No saco menor, podia-se ver as poucas moedas que continha, do pobre que não tinha quase nada para repartir. Na hora de pesar, a balança inverteu o peso, com o mais parrudo tornando-se leve e o menor, pesado. Deus explicou para o rico: “Deste muito, é verdade, mas não te privaste de nada; apenas por exibicionismo e vaidade, vendo teu nome figurar em todos os templos”. E para o pobre: “Deste pouco, meu amigo, mas cada uma das moedas representa privação para ti. E não se trata de esmola e sim caridade, feita naturalmente sem pensar que a levariam em conta, pois foste indulgente e não te colocaste como juiz frequentemente severo, julgando seu semelhante”.
Meu prédio foi alvo de um incêndio no domingo, 16 de setembro, à noite, que não deixou vítimas nem feridos, mas destruiu dois apartamentos, um deles vizinho ao meu. Entrei em pânico quando vi as chamas crescerem, cuspindo labaredas pelas janelas, diante da demora dos bombeiros em chegar para prestar socorro e não encontrar água nos hidrantes, com o mar em frente. Temendo a possibilidade de assistir da calçada minha moradia se transformar em cinzas, sem nada poder fazer – que sensação de impotência! Apesar de não ter sofrido prejuízo material, restei abatido e sem energia, infinitamente menor diante da força avassaladora da Natureza, o que me fez contrair uma gripe e dor de garganta de fundo nervoso.
Agradeço a meu Pai, que me protegeu e apagou o fogo. E principalmente por ter me guiado, cinco dias antes, até os homens que podavam as árvores de minha rua. Solicitei que desbastassem uma figueira repleta de muitas ramificações e coberta de folhas, frontal ao meu prédio de quatro andares, pois já se debruçavam sobre as janelas dos apartamentos. Caso não tivesse sido aparada, as labaredas teriam se propagado até essa árvore e as chamas generalizadas acabariam por envolver e consumir a edificação toda.

Antonio Carlos Gaio:
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