Um amigo meu lançou-me um desafio: o que é mais difícil para ele é estabelecer a finalidade de sua existência, por que está aqui, além dos limites de piedade e caridade. Possuidor de significativa acuidade espiritual, capacidade de percepção, muita sutileza, mas ainda não distingue o que é relevante nesta encarnação, deixando-se perder nos meandros de contendas menores, talvez por não ser reconhecido em função de sua extrema humildade e visão despojada da vida. Num arremedo de São Francisco de Assis que, por sinal, agrega muitos discípulos. Retraindo-o quanto à possibilidade de encarnar num autor de uma empreitada ou missão espiritual, fosse qual fosse, o que acaba por esgotar sua energia criativa, quiçá reduzindo a limites mais estreitos a sua própria crença em Deus.
Bem poucos escutam o que vos sopra o espírito em seu próprio coração. Daí vermos tantas pessoas desorientadas e perdidas em torno de si mesmas. Desconhecendo o potencial de sua essência espiritual. Parece o mar se chocando contra os recifes, repetindo-se à exaustão, sem noção de que existe algo maior em nossas vidas ou, o que é pior, duvidando. Tudo tem um preço, se deseja manter-se anestesiado face a seu próprio espírito. O vazio na consciência pesa muito mais do que se pensa. Se você sequer conhece a si mesmo, facilmente perderá o rumo. Quando a espiritualidade permeia a tudo e a todos. E quem sente a presença dos espíritos, pode perfeitamente compreender a amplitude dos sinais que emitem, mesmo que nada possa ser provado factualmente. O espírito aborda temas e aspectos que estão além, muito além de nossa consciência limitada ao plano material, e que pouco transcende. Enquanto outros fatores já se encontram dentro do nosso próprio Ser. Todos somados almejam expandir a nossa consciência.
A sexagésima sétima intervenção espiritual, em 23 de novembro de 2018, se iniciou com cânticos no intuito de abrir caminho para os espíritos curadores, prosseguindo com a leitura e comentários sobre o item 18 (“Os Órfãos”) do capítulo 13 (“Que vossa mão esquerda não saiba o que faz vossa mão direita”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Amai os órfãos! Se soubésseis o quanto é triste estar só e abandonado, principalmente na infância! Deus permite que haja órfãos para nos animar a lhes servir de pais para conduzir sua alma a fim de que eles não se percam no caminho do vício. Considerai também que, muitas vezes, a criança que socorreis vos foi querida noutra encarnação e, caso pudésseis vos lembrar, isso não seria mais caridade e sim um dever.
Viver não consiste só em comer, beber, dormir, sexo, e um dia morrer. Também é refletir, sentir e conduzir-se buscando alcançar graus mais elevados possíveis de conhecimento. Porém, há algo mais circundando cada Ser. E isso não dá para pesar ou medir. Nem ninguém que explique. As emissões espirituais sempre evocam o despertar da consciência. E isso não se traduz racionalmente ou com teorias bem arrumadinhas. Só se capta com muita sutileza para sentir a presença divina nas coisas simples e a eternidade no que é passageiro e fugaz, a justificar que vale a pena viver, aqui e além, sempre!
Caso contrário, és remetido à orfandade de se considerar sozinho no mundo, abandonado pelos seus pares, sem pai e mãe para te orientar, a sonhar com uma família que não teve, regredido à condição de uma criança, quando sempre precisamos crescer espiritualmente para um dia bem ingressar no Plano Espiritual, e não à mercê de uma alma que necessita de extremos cuidados, de tão abalada e ressentida com os impactos que sofreu no plano material.