Se surgirem barreiras inesperadas à sua frente, encare-as como testes de persistência para se firmar espiritualmente. Não abandone o que já conquistou, através do qual cresceu e se consolidou. Para isso é importante não se desesperar com os petardos lançados em sua direção, não se deixar vencer pela humilhação, mesmo que se sinta perseguido e injustiçado, ou até propositalmente espezinhado para desestabilizar suas emoções. Valha-se da serenidade para ajudar a encontrar soluções, buscando a harmonia interna.
Estava eu sentado na cama, preparando-me para dormir, quando uma mensagem soprada por meu pai, captada no meu ouvido, replicou um sonho meu na madrugada anterior, transcorrido em estado entre semidesperto e adormecido, no qual desfiei um conflito real e preocupante que assoma a olhos vistos, e que também atinge meu pai em espírito:
“Lembra-se de quando, eu e você, sofremos juntos a pior humilhação de nossas vidas?”.
Quando as Casas Gaio Marti foram objeto da sanha predadora de acionistas que pensavam pequeno, destituindo meu pai da presidência e traindo a memória de meu avô, que começou a criar a rede de armazéns em 1897, meu pai foi parar no hospital com hemorragia interna decorrente de uma úlcera que o consumia há anos. Enquanto eu contraí uma febre de 40º graus, sem nada sentir. Meu pai escapou da morte, mais uma vez, no espaço de quatro anos, justamente para que pudesse construir a sede atual da Fundação Marietta Gaio ao longo de 10 anos, e, aí sim, desencarnar. Enquanto eu dei sequência ao meu destino profissional, não mais ao seu lado no comando da empresa, justo quando mais nos aproximávamos como pai e filho.
“De tudo que revelou em seu sonho, meu filho, não deixe crescer ou vingar antagonismos e rivalidades”.
A septuagésima sétima intervenção espiritual, em 10 de maio de 2019, se iniciou com cânticos no intuito de abrir caminho para os espíritos curadores, prosseguindo com a leitura e comentários sobre os itens 8 e 9 (“Fora da Igreja não há salvação. Fora da verdade não há salvação”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”. Eu não estava presente no país nas intervenções espirituais de 12 e 26 de abril de 2019, nas quais os itens 4 e 5 (“O maior mandamento”) e 6 e 7 (“Necessidade da caridade segundo São Paulo”) foram objeto de estudo.
Fora da caridade, de querer bem aos outros, próximos ou não, não há salvação. Se fores do contra, não haverá crescimento espiritual, além de seu pouco caso ferir a Deus. Não adianta possuir o dom da profecia, a linguagem dos anjos, a faculdade de penetrar em todos os mistérios, dotado de uma fé capaz de mover montanhas.
A caridade é paciente, doce e benigna; não é invejosa, temerária e precipitada; não se enche de orgulho, nem é versada no desdém; não procura seus próprios interesses; não se vangloria nem se irrita à toa. O apóstolo Paulo coloca a caridade até mesmo acima da fé por ela estar ao alcance de todos, seja o inculto, o sábio, o rico ou o pobre.
É preciso não confundir “Fora da caridade não há salvação” com “Fora da Igreja não há salvação”, esse último de caráter separatista que divide os filhos de Deus ao deixar evidente o rancor dentre os seguidores de diversos cultos, quando não amaldiçoando e condenando uns aos outros, ainda que sejam parentes ou amigos neste mundo. Desprezando a grande lei de igualdade diante do túmulo, pois segrega-os até mesmo no cemitério. Já o ensinamento moral “Fora da caridade não há salvação” consagra o princípio da igualdade entre os seres humanos e da liberdade de consciência, tendo como norma que todos são irmãos, seja qual for sua maneira de crer e render homenagens a Deus.
Não existe uma única seita que não se arvore em deter o privilégio da verdade absoluta. Como se vangloriar de possuí-la em seu inteiro teor, se a área dos conhecimentos cresce sem cessar e as ideias se transformam e evoluem a cada dia? Se à Humanidade terrena não é permitido saber tudo, apenas conhecer uma verdade relativa e proporcional ao seu adiantamento. Se os Espíritos no mais elevado nível de evolução não desconhecem os riscos da posse da verdade absoluta como garantia expressa da felicidade.
Fora da verdade, da Igreja ou do Espiritismo não há salvação somente dividiria mais do que uniria irmãos sujeitos a provações; eternizaria as incompatibilidades, os antagonismos e as rivalidades.