Há que ressaltar a visão aguçada, a inteligência e a sensibilidade desses verdadeiros emissários de Deus, os nossos Espíritos amparadores, a iluminar outros caminhos que contornem obstáculos que normalmente surgem para nos testar, desde que sempre falando com verdade e com amor no coração. O que me faz lembrar a transição de meu avô da maçonaria (fama de casa de segredos) para o espiritismo, nos anos 1920, quando tive de estudar sua trajetória para escrever “Raízes Partidas”, com ele surpreendendo ao revelar que Allan Kardec já era do seu inteiro conhecimento, até sobrevir o rebuscado sonho de minha avó Marietta que implicou na criação da Fundação (descrito no capítulo LVIII – Onde nos encaixamos?). São manifestações que merecem estudo e não o silêncio do arquivo morto. O que também me faz lembrar as reservas de meu pai quanto a quem não estava preparado para o espiritismo, devendo aguardar seu tempo de amadurecimento, características essas que se mantiveram prevalentes na condução da Fundação Marietta Gaio, enquanto eu, em contraste, sempre fui muito curioso desde pequeno, desejoso que prevalecesse a transparência no trato das coisas que, aliás, é como o mundo hoje evolui.
Aquele que supõe achar no espiritismo um meio fácil de tudo descobrir, incorre em grande erro, disse Allan Kardec no livro “O que é o Espiritismo”. Os Espíritos não estão encarregados de servir-nos na bandeja os avanços da ciência ou a interpretação aclarada da doutrina – seria muito cômodo. Deus quer que trabalhemos, que o nosso pensamento se exercite, procurando entender o que ainda não conseguimos compreender, pois só adquiriremos o saber e o conhecimento a esse preço. Os Espíritos não vêm para revelar antes do tempo devido ao que ainda deve ser mantido oculto.
O espiritismo é uma ciência de observação, e não uma arte de adivinhação ou de caráter premonitório, cuja principal virtude é cultivar a humildade, não elevando a cabeça para olhar todos de cima.
A nonagésima sexta intervenção espiritual, em 31 de janeiro de 2020, se iniciou com cânticos no intuito de abrir caminho para os espíritos curadores, prosseguindo com a leitura e comentários sobre o item 8 (“A virtude”) do capítulo 17 (“Sede perfeitos”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
A virtude é o conjunto de todas as qualidades essenciais que estruturam um homem de bem, mas que quase sempre são acompanhadas de pequenas falhas morais que as desmerecem e as enfraquecem. Ao fazer alarde de sua virtude, falta-lhe a principal qualidade: a modéstia. Sobrando o vício mais oposto: o orgulho. A virtude realmente digna não gosta de se exibir, prefere se recolher ao anonimato. Melhor praticar o bem com total desinteresse e esquecimento de si mesmo. Portanto, não imiteis o homem que se gaba de suas próprias qualidades já que a ostentação esconde uma multidão de pequenas mesquinharias e odiosas fraquezas.
Não façais nunca a tolice de erguer uma estátua à sua própria virtude, embora seja compreensível de, no fundo do coração, sentir uma satisfação íntima quando faz o bem. Mas o fato é que estamos a uma distância infinita da perfeição e, portanto, mais valem poucas virtudes com modéstia do que muitas com orgulho.
O chamado ciclo evolutivo civilizatório assistiu a muitos impérios sucessivamente entrarem em decadência arrastados pelo orgulho e pela excessiva acumulação de poderes, e será pela humildade que um dia se redimirá do abuso de autoridade.