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CAPÍTULO XIX – TODO AQUELE QUE ATINGIR O TOPO SERÁ REBAIXADO PARA SE REENCONTRAR NA HUMILDADE

Como a figura paterna, depois de desencarnado, revela seus cuidados nem sempre valorizados, quando não injustiçados em virtude do rigor com que julgamos seus atos em vida. Por vezes, ele nos toca e deixamos registrado na memória, retornando quando dele necessitamos, se é que não se eterniza e de sua figura nos nutrimos em tempos adversos, lembra a leitora e amiga Marilene Schmarczek, lá do Rio Grande do Sul.
A décima nona intervenção espiritual, em 29 de abril de 2016, se iniciou com cânticos para abrir caminho para os espíritos curadores e a leitura dos itens 5 e 6 (“Todo aquele que se eleva será rebaixado”) do capítulo 7 (“Bem-aventurados os pobres de espírito”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Quando fores convidado para algum ágape, não te assentes em primeiro lugar porque pode estar reservado para outra pessoa, mais considerada que ti pelo dono da casa, que será obrigado a lhe pedir para ceder o lugar quando esse convidado chegar, enquanto que tu, envergonhado, irás buscar o último lugar. Mas quando for a tua vez de convidado de honra, assenta-te no último lugar, para que ouça do dono da casa para sentar-te mais próximo dos anfitriões. Servir-te-á isto, então, de glória, porque dito na presença dos que já estão sentados à mesa, significando que todo aquele que se rebaixa será elevado, e todo aquele que se eleva será rebaixado.
Qual não deve ter sido o espanto de todos com a cena em que Cristo abraça um menino como referência para entrar no reino dos Céus. Àquela época, criança não tinha autonomia e era sujeita à autoridade férrea do pai. O costume era de se conversar com base em parábolas e o que estava implícito no reino dos Céus é a pureza d’alma e a humildade – é o que Cristo buscava e busca no ser humano, e com as quais vamos perdendo contato quando crescemos e nos desenvolvemos, ao adquirirmos excesso de malícia, o hábito de maldar ou abusar de desconfiar ao lidarmos com os nossos iguais. Devíamos, como as crianças, ser mais transparentes, acolher melhor os ensinamentos que surgem todo o santo dia e deixar o orgulho de lado. Kardec nos relembra que Cristo é incansável em realçar humildade, pureza d’alma, simplicidade no coração bem como evitar o orgulho desmedido e a ambição em se colocar acima dos outros, exigindo ter que ser convencido para ceder terreno e chegar a um acordo.
Essa parábola de todo aquele que se eleva será rebaixado se encaixa perfeitamente na trajetória de meu pai quando perdeu, em 1969, o domínio das Casas Gaio Marti, uma rede de 20 armazéns construída por meu avô com o seu suor, dinheiro e sangue, durante as quatro primeiras décadas do século XX. Ao ser traído pelos sócios que o destituíram da presidência, foi humilhado e, portanto, rebaixado. Mas ele não quis brigar, bater boca, agredir ou ir às últimas consequências, optando por dar um passo decisivo para se elevar de novo, desta vez espiritualmente, ao se dedicar exclusivamente à construção de uma sede em Bonsucesso para a Fundação Marietta Gaio, com a venda das ações da Gaio Marti. Passando a prestar uma gama de serviços numa dimensão impossível de se concretizar nos tempos do velho Gaio como centro de assistência social, posto de saúde, creche, lar para idosas, e polo de espiritualidade e de evangelização para os carentes de fé.
Deus escreve certo por linhas tortuosas: precisou que meu pai fosse retirado pelos sócios à força, através de métodos escusos, da direção da Gaio Marti, para a Fundação Marietta Gaio se tornar esta grande instituição que é hoje e senhora de seu destino. Meu pai não teria tempo, dinheiro nem saúde (faleceu logo que foi colocado o último tijolo), se tivesse continuado a operar como negociante.
Eu também precisei de um câncer no intestino, seguido de fogo selvagem e infarto ao longo de 2015, para estreitar meus laços com a Fundação Marietta Gaio e prestar benefícios.

Antonio Carlos Gaio:
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