Espiritualmente, o cruzar de destinos é fato. Com que propósito se desconhecemos na maior parte de seu todo? A prova do fato. O livro “Suicídio: um ato e muitas versões”, lançado em maio de 2016, escrito em coautoria com a psicanalista Lenita Bentes, não existiria se eu não tivesse publicado “Regina” em 2011, um romance biografado de minha irmã, falecida aos 34 anos. Ou se Lenita Bentes não tivesse tomado conhecimento ou nem lido “Regina”, através de minhas mãos, graças a Eliane Ganem, amiga de ambos, e que também fora amicíssima de Regina na adolescência, e igualmente escritora, deixando-me a par desse elo quebrado no passado urgindo por fundi-lo. Lenita e Regina foram amigas inseparáveis nos anos 1960 até cada uma tomar seu rumo e nunca mais se virem, sem que tivesse havido um obstáculo daqueles intransponíveis. Enquanto eu, quando jovem, a braços com minha vida, cruzava constantemente com Lenita em minha casa, que a frequentava amiúde, sem nela me deter para trocar ideias. Pois bem, passados 40 anos, nos reencontramos. Ela tornara-se psicanalista lacaniana com tese sobre suicídio baseada nas cartas dos escritores suicidas Virgínia Woolf e Stefan Zweig, ao passo que eu, como escritor, ansiava por abordar o tema tabu na escritura de um livro. Mas não sabia como, pressionado pelo desejo de abrir e compartilhar a terrível experiência do suicídio de meu irmão Luiz Jorge Gaio em 1965, bem como a morte de Regina Maria Gaio em circunstâncias estranhas consideradas como suicídio, não devidamente investigada pela polícia em 1981. Regina, em espírito e através de seu livro, nos uniu para ambos escrevermos “Suicídio: um ato e muitas versões”.
A vigésima segunda intervenção espiritual, em 10 de junho de 2016, se iniciou com cânticos para abrir caminho para os espíritos curadores e a leitura do item 12 (“O orgulho e a humildade”) do capítulo 7 (“Bem-aventurados os pobres de espírito”) do livro de Allan Kardec, “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
O povo de Israel abandonou o verdadeiro Deus quando Moisés subiu ao monte Sinai para receber os mandamentos do próprio Deus. Homens e mulheres não esperaram e ofereceram suas próprias joias para erigir um bezerro de ouro que pudessem adorar visto que Moisés tardava em voltar. Construíram um deus adaptado ao seu gosto e às suas ideias, à imagem e semelhança de suas paixões, tal como ainda hoje se faz, seja terrível e sanguinário para uns e, para outros, despreocupado em relação aos interesses do mundo. Homens, por que vos lamentais das calamidades que vós mesmos amontoastes sobre vossas cabeças? A quem deveis atribuí-las senão a vós mesmos, que procurais sem parar destruir-vos uns aos outros? Por que tendes em tão grande estima aquilo que brilha e que encanta os olhos, ao invés do que vos toca o coração? Por que fazeis do viver na riqueza a razão de vossas vidas? Quando a consideração que se dá às pessoas é medida pelo peso do ouro que possuem ou pelo nome que trazem, que interesse podem ter para se corrigir de seus defeitos?
Despertai, arrogantes! Se Deus os deixou subir é para lhes dar tempo de refletir e de se corrigirem mediante os golpes que, de vez em quando, a vida desfere para os advertir e baixar o orgulho. Mas que nada! Em vez de se humilharem, eles se revoltam. Até chegar a um determinado limite em que Deus os derrubará completamente e a queda será tanto mais terrível quanto mais alto tiverem se elevado.
Não permaneçais insensíveis à voz dos Espíritos enviados para purificar e renovar nossa sociedade civilizada, rica em ciências e, todavia, tão pobre em bons sentimentos. Que cada um destrua, pouco a pouco, os altares que levantou em homenagem ao orgulho.