Os filmes de Ugo Giorgetti podem não ser sucesso de bilheteria, mas são muito bem aceitos pela crítica com toda justiça. O clima criado por Ugo Giorgetti para “Cara ou coroa” retrata com justeza a paranoia dos anos de chumbo. Só que paranoias reais, que correspondiam ao medo de ser perseguido, pego, torturado, executado ou sumir do mapa, até por delito de opinião e expressão da arte. No entanto, a paranoia desencadeia outras não tanto reais, mesmo porque a paranoia se alastra como epidemia. Como a relacionada ao taxista, por ser anticomunista, retrógrado e malufista, na pele do maravilhoso Otávio Augusto. O perigo persecutório supostamente estampado no rosto de pessoas em bares e ruas. A paranoia real trazida ao dia a dia pela ditadura militar em coexistência com a que nos cerca ao enfrentarmos nossas existências, em clima low profile sem carregar nas tintas e fazer alarde, típico da lavra de Ugo Giorgetti, brilhante desde o seu primeiro filme.