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CARETICE NO CARNAVAL

A escola de samba São Clemente sofreu a cassação branca da Câmara dos Deputados, que vetou o carro alegórico que representava o Tio Sam sentado na cúpula do Congresso como se fosse numa latrina, refletindo o grau de apreço por essa ilustre Casa, na fantasia de seu presidente. Já é reflexo do samba paulista se meter na irreverência carioca para tirar o bom humor do carnaval do Rio de Janeiro. Partem do princípio que carnaval é coisa séria, cuja imagem será veiculada no mundo inteiro, não cabendo cutucar a onça com vara curta, pois fatal a Amazônia de hoje ser o Iraque de amanhã. Sem se mancarem que o presidente toma um porre de felicidade no exercício do cargo, ao mal equilibrar sua pança em cima de um skate, num deslumbre que lembra o Collor pilotando jato.
Sem medo de ser feliz, o PT encareta quando sobe o morro para barrar do baile uma metáfora que ofenderia a dignidade das instituições, inspirado na Igreja Católica que já havia proibido Cristo como patrono de mendigos em enredo antológico da Beija-Flor. Se arvorando no direito stalinista de dizer o que é bom para o atual estágio da democracia brasileira, adentrando no perigoso terreno de qual simbolismo convir à folia momesca.
O que provocou reação em cadeia: Pelotas também quer censurar outra ala da escola de Botafogo, com o atraente título “Não dou Pelota para veados”. Quando viado todos nós somos. No carnaval. Ao nos fantasiarmos de mulher, maquiarmos o rosto e libertarmos a língua da sua habitual repressão, botando a boca no mundo. Para cantar e rir de tudo aquilo porque tanto choramos.
Se é para falar sério, como é que irá brincar no carnaval o empresário que registrou como sua filha, há 17 anos, o fruto de um caso extra-conjugal? Agora que descobriu, graças ao DNA, não ser o pai da adolescente? Dizer que não é mais sua filha não pode, a grandeza do gesto no berço não permite. Dizer que a vadia da mãe se enganou, um tanto tardio. Se tantos pediram bênção para conseguir a graça de Iemanjá. Relaxa e goza sua filha, demasiado grosseiro. A solução é enfiar uma máscara e se mostrar politicamente correto para enganar os trouxas que têm o brio como referência. Acusar o golpe não é de bom-tom, demonstra falta de equilíbrio, sintoma de agressividade, reprovariam sua conduta.
Me engana que eu gosto. Desde que com arte, a lavagem é cerebral, embaralha-se os pontos cardeais e os cinco sentidos, e voilà! Feliz como o diabo gosta, depois de aprender a enganar, tantos foram os anos padecidos na inocência agora retratada nos netos.

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Antonio Carlos Gaio
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