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CARMA

Há que encarar e aceitar nossos pais tal como eles são e não como queríamos. Mesmo porque há mais do pai e da mãe em nós do que admitimos. Há que perdoar os pais e apagar os rastros da mágoa. Mas, como? O que importa é deixar de ser filho e passar a ser pai de si mesmo. Se adotar, assumindo a própria paternidade, libertando-se da intolerância com as absurdas imperfeições que habitam pai e mãe, herdadas por nós. Como se tivéssemos um mandato divino que nos confere o maior grau de virtude a que alguém pode chegar.
Para que não repita os mesmos atos que sempre julgou abomináveis nos seus pais, se tornando prisioneiro de si mesmo e exigindo dos outros o que de fato exige deles, é necessário abandonar esse status ridículo de filho que ainda culpa os pais pelos seus fracassos.
Há um tempo em que a gente se irrita com conselhos enlouquecedoramente certos. Ainda mais quando preveniam sobre os que estavam em falta e desapareceram, pois mostrarão suas faces como visitantes inesperados. Na encruzilhada da juventude, optou pela contramão. Mas chega a idade do balanço, em que é preciso hibernar e descobrir que não há mais nenhum guerreiro, hipocrisia ou monstro com quem duelar. É hora de centrar a cabeça, depor as armas e ficar do lado de quem a gente gosta e se afastar de quem não nos ama. É preciso aprender a ser só no limite da resistência, senão atraímos cobras, escorpiões e ratazanas. Que nos rejeitam. São os céticos e amargos, que deixaram matar dentro de si aquela criança linda e ingênua, cheia de esperança.
Somos o resultado do acúmulo de experiências de milhões de anos passados depositadas como sementes na consciência. Esse é o nosso carma, não o nosso destino. O verdadeiro fim é mudar o destino com a nossa prática. Não se pode ficar apegado a um castelo que irá desmoronar, se insistir no medo de mudar. O que arquitetamos hoje é a casa em que iremos morar amanhã. Não adianta alegar que não sabe o que faz ou que não pratica o mal, o carma está criado e a responsabilidade é de vossa magnitude.
Carma não é penitência, para tão-somente ficar expiando os pecados de outras vidas.

Antonio Carlos Gaio:
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