Não existe na história recente de prefeitos do Rio de Janeiro um que seja tão criticado, sacaneado e desmoralizado por blocos, associações e grupos carnavalescos como o pastor Crivella, que jurou em campanha não misturar política com religião – mentira!
Primeiro, Crivella cometeu a heresia de reduzir a subvenção para as escolas de sambas e blocos em razão do Carnaval ser uma festa pagã e, segundo ele, sujeita a inúmeros pecados por nos induzir a orgias e desrespeitar a tradicional família brasileira. Depois, condicionou a realização de eventos públicos à aprovação do ditador eleito. Anunciou a criação de um blocódromo na distante barra da Tijuca para, de propósito, isolar o Carnaval. Suspendeu as rodas de samba e fechou a Casa do Jongo. Não patrocinou a Parada Gay nem barco de Iemanjá no Réveillon por pura discriminação. Fazendo pressão para proibir exposições de arte com o objetivo de combater a pedofilia, incendiando centros espíritas e de umbanda, quando não agredindo adeptos do candomblé.
Próprio de quem não sabe a diferença entre a sua crença e as nossas tradições populares, que vêm de muito antes de quando nasceu, encarnado em sua triste figura cadavérica.
Transformando o primário Crivella em alvo de certeiras flechadas numa festa que está mais para a alegoria do que para a harmonia. Para o escracho e a gozação, qualidade ímpar do carioca. A maior parte dos blocos investiu em letras que desconjuntam a rigidez de um pastor que incentiva a guerra religiosa.
Do Simpatia é Quase Amor: “Ensaio de escola? Ele mela / Roda de samba? Atropela / Macumba? Não tolera / Só gosta de bloco Nuttela / Ele não cuida nem zela / Casa de jongo? Cancela / Em nome de Deus? Apela / Qual o nome do hômi?”
O bloco Carmelitas do bairro de Santa Teresa evoca em suas ladeiras “Mas veja só, quanta heresia / Tanta igreja e só uma padaria”. Ou “Se é pecado sambar / o Barbas (o bloco) não pede perdão”.
Ganhando eco nas ruas “Abaixo o preconceito / Ninguém vai ganhar no grito! / Ô, seu prefeito, por que se oculta assim?”. Fora, Crivella!