Os mais antigos e grandes blocos de Carnaval no Rio de Janeiro estão tirando o time de campo obrigados pela mudança de proposta carnavalesca. Os foliões exigem que sejam cantadas apenas as músicas mais conhecidas, podendo incluir desde o rock até música sertaneja, a depender do mau gosto que impera na mocidade louca. Como se fosse um baile de carnaval num salão de clube, no qual os maiores hit são gritados a toda potência. Aliás, modalidade essa igualmente ultrapassada por jovens que terão de construir e empreitar seus novos balanços e embalos da folia, que já foi de Satã.
Já era escolher o melhor samba para ser cantado nas ruas por onde os blocos animam a vizinhança e a rapaziada que vem de outros recantos do Rio de Janeiro, bem como turistas de inúmeras paragens. Na noite da escolha se festejava a atualidade do tema e os personagens políticos ou famosos que se queria cair na pele. A beleza das letras e a sua tessitura. A preocupação em decorar os versos para não faltar voz na ordem unida dos blocos.
Má vontade com a juventude? Normal, vindo de um remoto ser que nem se aguenta em pé! Mas não se pode deixar de pensar que ver os blocos anciãos de Carnaval morrerem é o velho ser sepultado para ceder mais uma vez ao novo – é inevitável. Não consola virar tradição ou ser enjaulado em museu, reproduzido em estátuas, quadros e artesanato, a exemplo dos deuses gregos e sua beleza apolínea.
Pois se foi lá atrás que deixou suas pegadas aprendendo a sapatear, requebrar as cadeiras, inventando novos passos entre um beijo e outro e a se tornar um sambista entendido. Tempos que não voltam mais, só faltando a memória se dar conta e parar de recordar para não encher o saco.
O melhor é aceitar a nova realidade, mesmo porque é imutável, ficando à toa na vida, vendo a banda passar. Da janela da saudade.