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CASTIGO

Tendemos a buscar castigos para quem infringe os preceitos básicos que visam proteger o ser humano da insanidade de seu semelhante. Tão revoltados ficamos se o castigo não vem do Céu a tempo e a hora que, quando o raio cai, dizemos que a Justiça tarda, mas não falha. Pois o castigo reclamado enfim chegou. A reforçar o mínimo de justiça que se exige para acreditarmos no mundo em que encarnamos.

Um dos abusos que mais nos irrita é o causado a menores, pois eles não têm como se defender da malícia e da patifaria de adultos que se utilizam de sua experiência para ludibriar miúdos ingênuos, cuja boa-fé será corrompida para o resto da encarnação.

Daí costumarmos saudar castigos como o que ocorreu ao australiano Christopher John Golf, condenado por pedofilia em seu país e foragido no Rio de Janeiro por 20 anos. Ele se encontrava bem na trajetória do carro dirigido por Antônio Anaquim, em janeiro de 2018, que, negligentemente, atropelou 18 pessoas na Avenida Atlântico, a despeito de estar plenamente ciente de seu problema neurológico decorrente do quadro clínico de epilepsia, e em tratamento médico desde a adolescência para evitar os recorrentes “apagões”, negando sofrer tonturas, desmaios e convulsões, bem como ingerir medicamentos específicos ao renovar sua carteira de habilitação, deixando de se submeter a exames mais rigorosos no Departamento de Trânsito.

Christopher Golf ficou cinco meses em coma internado em um hospital, até vir a morrer em maio de 2018, vitimado por um homicídio culposo, onde não há intenção de matar. Ou seja, morreu pelas mãos ao volante de um irresponsável que não teve o menor cuidado com pessoas que passeavam à beira da praia, privando-o da vida. Quando se pensava que os seus crimes já haviam prescrito aos olhos de Deus ou quiçá esquecidos.

Não pode ser uma mera casualidade, mas castigo lembra olho por olho, dente por dente. Aqui se faz, aqui se paga. Não adianta se esconder que um dia chega a sua hora de pagar pelo que fez. Ou, então, que transcorreu o tempo necessário de 20 anos para adquirir consciência dos malefícios que sua pedofilia lhe infligiu, corroendo sua mente e abrindo caminho para um tratamento espiritual como um preparativo preliminar antes de se dirigir ao Plano Espiritual. Tempo que alguns logram aproveitar para rever seus valores e deixar de agir como antes. O que não necessariamente implica em castigo nem perdão, apenas mais clareza e noção do quão equivocado desperdiçou sua encarnação, encerrando seu ciclo. Período esse que porá em xeque a sua fé. Ou melhor, sua falta de fé. Para onde essa tremenda energia foi canalizada e se exauriu com as pedras encontradas no percurso.

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Antonio Carlos Gaio
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