A moral vigente na Hollywood dos anos 40, exibida nas telas de cinema do mundo inteiro, uma amostra dos padrões de censura a interferir no comportamento do ser humano. Com reflexos sérios na libido, no que consiste a decência e na noção de pecado.
Beijos de boca aberta não devem ser mostrados. A beleza do corpo nu ou seminu não torna moral seu uso em filmes. Danças com movimento dos seios e excessivos requebrados, enquanto os pés estão estacionários, violam os bons costumes.
Adultério e sexo ilícito, ás vezes necessários ao enredo, não serão tratados explicitamente, preservando a santidade do casamento. Afinal de contas, amor impuro não deve ser exibido como atraente e belo.
Sedução e estupro, apenas sugeridos, e somente quando essenciais à trama. Não mencionar a palavra aborto. Não induzir a simpatia da platéia para o lado do crime, do errado, a torcer pelo Mal. Não exacerbar vingança nem o uso de bebidas alcoólicas. Não retratar a religião com personagens cômicos ou vilões.
Como a mulher sofreu nesse tempo! Ser mãe é padecer no paraíso. Só se ama uma vez na vida. Vai ver por que o seu filho está berrando, recomenda o marido. Nem pensar a mulher sair sozinha para passear, sinal de que estava se oferecendo. Deselegante a mulher fumar e ficar jogando fumaça na cara dos outros. Decote, pernas, até onde mostrar?
Se pudessem, ao menos, ter ouvido Anna Freud: “mentes criativas são conhecidas por resistir a todo tipo de maus-tratos”. Certamente se lembrariam dos seus tempos de criança, quando os rasgos de personalidade ainda não denotavam sinais de domesticação. “Se você já foi ousada, não permita que a amansem”, observaria Isadora Duncan.
Todo o cipoal de leis, regras e recomendações a respeito da boa conduta visam a inibir o exercício do amor. Se é bom ou mau, só o saberemos ao final do interlúdio, do intercurso e do acasalamento, que pedem passagem e moderação nos comentários para não interferir, obstruir e negar um amor maravilhoso porventura nascendo. A censura não tem o poder da onisciência e da futurologia, a respeito falou mais alto a Jeanne Moreau de “Os Amantes” e “Jules e Jim”: “a idade não protege contra o amor. Mas o amor, na medida certa, protege contra a idade”.
Mas foi na década de 60 que as mulheres se libertaram de mães e avós castradoras, além de maridos que lhes exigiam disciplina, em que Nelson Rodrigues deixou de ser considerado um autor maldito e boca-suja, enquanto Joan Baez deitava e rolava em Woodstock: “você não pode escolher como vai morrer ou quando. Você só pode decidir como vai viver agora”.
A censura não resistiu e morreu.