A AmBev é subproduto da fusão da Antarctica com a Brahma, ainda que ninguém vá pedir no balcão “me vê uma AmBev aí”. As louras geladas juntaram esforços para esmagar as concorrentes e alcançar o mercado internacional, o que, do ponto de vista economicista, atrai capital estrangeiro para ser investido no país e, em conseqüência, aumenta o nível de emprego. Embora a automatização seja o forte de cervejarias. Nada que espante, já que o capitalismo pulveriza insignes concorrentes em nome de valorizar as ações de empresas que adotem o princípio de Golias. Bom para quem vive de dividendos.
A AmBev acabou de se fundir com a cervejaria belga Interbrew; por baixo dos panos, teria sido vendida por US$ 11 bilhões. Nada que espante, nacionalismo é uma página virada, a internacionalização da economia é fato consumado, brasileiros que vendem seus negócios enriquecem, blindam seus carros, vão cuidar de seus interesses no exterior e ninguém tem nada a ver com isso, não se fala mais da falta de ética de Zeca Pagodinho no episódio do “experimenta”, e o melhor a fazer é tomar um chope bem gelado.
Tem um porém. A conta da AmBev de 525 milhões, pendurada no BNDES em linhas de financiamento que vencem de 2004 a 2009, além de um empréstimo de 715 solicitado para modernizar fábricas. A visão estrábica de estimular o econômico em prejuízo do social com essa grana toda. Com o nosso dinheiro. Pouco importa em que governo se originou, pois a mentalidade é a mesma. Malbaratando a finalidade de um banco que sempre prestou relevantes serviços ao país cuja preocupação precípua era investir em setores estratégicos da nossa economia, aliada ao nível de emprego.
O que ajuda a compreender melhor por que no vernáculo o termo esculacho renasceu das cinzas, na boca de presidiários e traficantes. Diante do Fome Zero, de 80% da população brasileira acotovelada à beira do litoral, da periferia avançar sobre o que os ricos conquistaram e se enquistaram, da câmera oculta de televisões que constatam inúmeros focos de ignorância na nossa educação, da concentração de renda na mão de tão poucos, e por aí vai.
O que dá ao presidente do BNDES, à semelhança ao do Banco Central, uma dimensão de autoridade somente subordinada ao da República, face à gravidade dos direitos lesados de uma maioria silenciosa que assiste, impotente, a essa gente esperta, de boa formação, de notório berço, aplicar sua inteligência em tirar proveito do paraíso onde nasceram. Sacar vantagens da mãe que os pariu. E colher os frutos no exterior, longe da insegurança que campeia no faroeste em que transformamos a outrora cordial aquarela do Brasil.
E pensar que Palocci, abraçado ao Malan, já comemorou com a elite econômica da PUC a queda do risco-Brasil, a credibilidade em alta consagrada pelos índices econômicos em detrimento dos indicadores sociais que refletem a nossa miserabilidade. Nada que espante em escolas supostamente heterogêneas chegarem a um denominador comum, a exemplo do marido que procura uma amante à semelhança da esposa, em gênero, número e grau.
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