A Natureza dispôs a sonoridade inigualável do canto da cigarra como prenúncio de calor forte. Deve ser bem remunerada pelo verão, cara de prestígio e rico que precisa que as pessoas acorram às ruas para vender sua imensa gama de produtos associada à sua imagem de deus-sol. Mas a cigarra não é confiável. Se sobrevém a chuva, ela se cala e some, sem assumir a menor responsabilidade. Repentinamente assobia de dia ou no cair da tarde ou mesmo de noite; só não trabalha de madrugada, como os grilos. Encerra seu belo canto sibilando esses bem acentuados, a demonstrar para as formiguinhas que é um vero artista e não uma vagabunda. Se correu fama de que ela não quer nada com o batente, por sua vez seu canto é inesquecível e eterno, ainda mais com o aquecimento do planeta. As cigarras vivem à superfície e à sombra do verão.
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