Embora indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro como produção francesa, todos são turcos desde a cineasta Deniz Gamze Ergüven em sua estreia como diretora, passando pelos atores, até o roteiro centrado na irmã caçula (a estupenda Günes Sensoy de 14 anos) dentre as cinco graças, ambientado no Leste da Turquia, a mil quilômetros de Istambul. Acusadas de obscenidades e detalhes sexuais inexistentes ao tomarem banho de mar com um grupo de rapazes na faixa da adolescência, todos vestidos de uniforme escolar, em comemoração pelo final do ano letivo, as cinco irmãs passam a ser alvo do tio e da avó, sob cujos cuidados vivem, de uma série de punições iniciadas no espancamento, seguido de confisco de celulares, computador e TV, no uso de roupas que cubram todo o corpo, na proibição de ir à escola, no confinamento dentro de casa, que foi toda gradeada, até serem obrigadas a casar, uma a uma, para os responsáveis se verem livres de cuidar da sexualidade das cinco irmãs e de terem se investido em porteiros da virgindade. Baseados no princípio islâmico vigente de que mulheres é que são as culpadas pelo desejo sexual dos homens por conta de arderem em volúpia e obcecadas na atração, necessitando de freios e controle na educação, sinônimo de proteção. Quando privar meninas, praticamente crianças, de sua juventude, de seus estudos, do riso fácil, é um crime horrendo. Essa é uma das razões do sucesso do filme, o casamento forçado ou arranjado ainda é uma enorme realidade no universo islâmico, indiano e boa parte da Ásia, de substancial população no planeta. No entanto, a grande hipocrisia ventilada pelo filme é o abuso sexual de menor por quem se declara ser seu guardião e cuidador. A cuja consequência se assiste com um nó na garganta e o choro entalado.