Quem gosta de homem é viado.
Impressão cada vez mais reforçada por mulheres que tiveram de concentrar o seu foco no próprio desenvolvimento e evolução ao acentuarem a competição com o sexo oposto. Brigando no terreno da competência técnica ou intelectual e na seara da beleza que pretende desbancar o Apolo para fazer reinar a Vênus. A competição implica no risco de engrossar o contingente gay, seja por desistência da briga de galo ou por não se reconhecer um adversário à altura para fazer sexo com ela. Enfim, pro dia nascer feliz.
Sem contar o grupo mais numeroso que exige que o relacionamento seja um bom negócio. Não apenas segundo o ponto de vista do vil metal, medido pelo indispensável necessário para o fruir da comunhão de espaço. Um negócio seguro, livre dos riscos que pesavam sobre a mulher de ontem, evitando baques desnecessários no orçamento se dirigida uma política que preveja quais são os pontos periclitantes que concorrerão para a perda de status. Identificados pela visão e argúcia dela, mesmo que sua participação no rumo do negócio não seja suficiente para lhe conceder poder de mando. Sem obedecer a pré-requisitos que estabeleçam segurança, o negócio não vale a pena.
Já faz um bom tempo que a mulher abandonou a política dos bons modos, a etiqueta, a educação do Sion, o culto ao recato e fingir inocência, para explorar o corpo bem-feitinho, o vigor das linhas, a forma exuberante, o bronzeado ou a brancura que intriga… e se expor, se expor muito. Na mídia, na passarela, sejam quais forem os corredores que prenunciam luz no final do túnel. Desafiando os olhos de quem a admira, ficando por ficar, na tentativa de se valorizar profissionalmente, sem ter medo que o uso do seu corpo dê margem a comentários que a associem à profissão mais antiga do mundo. No trajeto, se conquista contratos, abiscoita novas profissões, ascende socialmente, torna-se um bom partido e casa-se no Outeiro da Glória, num megaevento patrocinado por investidores que dão fé à sua imagem e compartilham esse crédito com o público.
A voz da malícia insinua que hoje em dia basta explorar sua beleza intrínseca, facilitada pela diversidade requerida pelo mercado, que é o suficiente para se dar bem, na medida que irá desempenhando inúmeros papéis na cena do teatro da vida. Tirar fotos nua é explorar com toda justiça a imagem a que você faz jus porque é bonita e gostosa. Ou tem uma bunda incomum. Lábios grossos mui apropriados. Uma cara de cafajeste que atrai. Um misto de hetero e gay, o bi que satisfaz. Uma zona baixa que é o ponto alto para virar a cabeça. Um cala-boca contundente em quem injuria à boca larga a pirataria piranha que entra em nossas casas através de revistas e da TV e nos aborda sem o menor pudor e na maior das lascívias. E cada vez mais sendo considerado cada vez menos michê. Longe ainda de conquistar uma aura de respeito acima de qualquer suspeita, mas já aceito no mercado de costumes em virtude do cachê ter conquistado seu espaço, ao despir um santo para vestir outro.
Portanto, a tendência é o homem cair na boca do lobo do homem. Restando mais mulheres sós ou induzindo-as a reproduzir a tendência. Se trata de uma crise que ainda não ganhou visibilidade. Substituímos um mundo calcado nas aparências derrubando barreiras de hipocrisia por um arquétipo forjado na imagem de poder mudar tudo quando bem entender para ser feliz já. Indo de encontro a tudo com que o sujeito sonha. Caso seja demais, ele adapta às suas limitações ou então peita achando que faltou se empenhar mais. E assim seguimos entretidos por um mecanismo que já tomou conta da gente sob o risco de ficarmos ultrapassados. Pode-se daí inferir a bruta confusão acarretada ao complexo do amor, que virou um megaempreendimento sujeito a investimentos, estratégias e espetáculos.
A crise exige que nos posicionemos em questões de amor: se continuaremos a ser cínicos, transparecendo inteligência e esperteza, ou românticos, considerados ingênuos e imaturos. O ar superior delineado ao longo das conquistas se esvai quando o homem ama de verdade. Precisa provar que o filme não está queimado, que agora é pra valer. A necessidade de levá-la para a cama para demonstrar o peso do seu amor, é assim que ele expressa seu afeto. Já a mulher exibe um outro repertório em que o amor rola sem precisar que fique explicitado. A detentora do romantismo deixa o homem ensandecido pois, quando fascinado, não distingue amor de sedução.