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CIÚME

O mundo se estreitou violentamente e a realidade não comporta paraísos. A idealização de manter acesa a chama da união mais sublime, revestida de lirismo e pureza, esbarra no ciúme que corrói o amor.
O ciúme normal protesta, demonstra amor na exata medida de segurança do relacionamento. O ciúme patológico contesta, baseado no forte sentimento de posse a ponto de considerar você como alguém que lhe pertence. É preciso distinguir amor de posse se, no instante do orgasmo, ele insinuar-se no ouvido dela com um “você me pertence”. Não quer dizer que deseja enjaulá-la e que de lá só poderá sair se ele resolver abrir a porta.
O ciúme deixa de ser normal quando passa a dominar o relacionamento. Como não aceitar que o parceiro faça um programa sem a sua companhia. Mexer em suas gavetas, vasculhar as ligações recebidas no celular, sentir a necessidade de saber onde ele está o tempo todo. Pôr-se a fantasiar, imaginar e criar sua própria história, tirar suas próprias conclusões e achar que está certíssimo!
Ao necessitar provar que o amor existe a todo custo, o ciúme começa a se transformar em desvario comportamental, dando ouvidos a murmúrios de que é o braço armado da possessividade. Bolas, como diferenciar o ciúme de um interesse pelo que o outro faz e pensa no dia-a-dia, sem implicar em controlá-lo?
Difícil definir a fronteira entre ciúme e interesse, pois fácil é camuflar o ciúme com arroubos de interesse, porquanto, é de fato e real o interesse, o parceiro não consegue distinguir. Quem sabe me dizer qual é o contrário do ciúme? Não existe. Porque se não há ciúme, inexiste o interesse e o cuidado para com o outro. Portanto, não há relação. Mas se o ciúme persiste, imperam a exclusividade, o receio de que o ente amado dedique seu afeto a outrem ou simplesmente cultive o medo de perdê-lo.
Melhor faríamos em sepultar a estúpida realidade de relações possessivas, que transforma o amor em escravidão e esvazia o conteúdo das juras de amor que conferem magia ao dia-a-dia. O importante é sair de dentro de si para alcançar o bem-querer de quem se ama. Calar a máxima de só conseguir amar a nós mesmos, na essência do egoísmo. Há que mexer em casa de marimbondo e comprar remédio caro, pois o homem só entra no desejo da posse quando realmente se interessa. Enquanto a mulher exige a prova para entrar no desejo de amar.
Tendo em vista que o ciúme patológico faz parte da normalidade, é melhor manter-se desperto, pois se dormir no ponto, muita água passará debaixo da ponte e deixará de ver coisas que nem Deus acredita.
O ciúme existe para confirmar o interesse, a atração, o tesão. Caso contrário, é melhor mudar de assunto.

Antonio Carlos Gaio:
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