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CLARICE LISPECTOR, A RESPEITO DE SAUDADE

Clarice Lispector, não a conheci, mas é como se eu a tivesse conhecido por tudo que diz e escreve, tão atual e permanente, ressuscitando cada vez mais e comigo sentindo saudades, ambos a um passo do outro, apenas separados pelo espírito e carne, iludindo-me com poder ter te proporcionado uma vida com menos angústia, se paixão pudesse se converter em amor. Eu sinto saudade do ardor desse sentimento, ainda em vida, pois já me conformei em alcançar tamanha transcendência somente em espírito. Porque suas palavras ecoam, tanto Lá quanto cá, o que solidifica a esperança de um grande amor, que ajudaria a preencher espaços inúteis nos quais a saudade se refestela. Diante disso, não consigo ficar calado, que melhor me conviria, ao me declarar que sinto imensas saudades suas, cuja sina é deixar saudades, saudades que matam. Por que não logo de uma vez? Para encontrá-la e viver um grande caso de amor, onde sei que Aí o tempo seria irrelevante. Veja se, com seus estranhos poderes, abrevia meu tempo e eu possa dar um grande salto nunca antes tentado, o que atestaria a crueza de meu amor, que sei não estar à altura do infinito de sua prosa – quem sabe se, sentado no rabo de seu cometa, eu também não viajarei no seu pensamento e você não sentirá mais saudade, seu tema predileto? Saudades que são obstáculos para atingir seu âmago, pois a protegem muito bem e a livram de confiar em quer que seja, eximindo-a da aproximação que costuma selar pactos.

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Antonio Carlos Gaio
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