Torcemos para que a noite venha nos acalmar. Que os sonhos tragam bons ventos. Ou que o cansaço nos ponha a dormir como crianças exauridas pelo ardor das brincadeiras a que se entregam. Pior do que os pesadelos são os problemas que a noite traz à tona, deixando-nos insones. Quando a função da noite deveria ser a de bani-los para que fizéssemos jus ao merecido descanso. Mas como? Se há noites em que bate o remorso por agir sem usar a cabeça e pôr tudo a perder? Como voltar atrás para procurar o dia e descobrir onde foi que eu errei? Melhor se refugiar no escuro das noites despidas de estrelas e – quem sabe? – aguardar a luz se abrir sobre o caminho a seguir. Pois é a noite que fermenta as flores para o dia glorificá-las sob a ação do astro maior que é o sol. Por mais que o inverno seja tão inclemente e prolongue a noite sem dó, há de haver uma nesga no dia para uma borboleta se esgueirar e mostrar que ainda existe graça, beleza e vida em torno de você, apesar das trevas da ignorância nos acenar com a mais longa das noites quando provocará um apagão nas estrelas. Qual é o espírito remanescente na noite? A ameaça decorrente do breu ou o silêncio de que nos servimos para tranquilizar nossas almas? E parar as máquinas.