“Ela não gosta de mim.” Talvez ela tivesse tentado (por causa da obrigatória convivência), talvez até tivesse gostado em algum momento. Coisa que o vento dos desentendimentos manchou.
O que eu gostaria de dizer para esse não amor é que tá tudo certo. Não há certo ou errado em gostar. Ninguém é obrigado a gostar. Nem precisamos que todos gostem da gente. (Meu pai vivia dizendo isso pra mim e ele tinha razão.)
O grande lance, nessa história toda é olhar pra dentro. Não adianta tentar entender a atitude e o comportamento do outro. Até julgá-lo de louco, ou tosco, se não conseguimos nem compreender porque nós sentimos assim em relação ao outro. Por que ele me desperta revolta? Você que me lê já tentou se perguntar isto?
É muito fácil responder esta pergunta com um: “porque fulano não presta, ele isso, ele aquilo”…. Pessoas que a nossos olhos “não prestam” podem ser muitas neste mundão de Deus, mas quando somos obrigados a conviver com alguém, é porque algo temos que aprender com ele, nem que seja sofrendo.
O que esta pessoa me faz aprender? A não ser como ela? Ou a olhar pra situação com lucidez o suficiente para entender que ninguém é igual a gente? E que por não ser igual, não ter as mesmas visões de vida ou comportamentos, não significa que automaticamente posso julgá-la como má. Aliás, existe alguém 100% mau nessa vida?
É a hora de você se colocar no seu lugar. Aí de onde você está, sua vivência desde que você nasceu, foi uma. Uma completamente diferente da vivência dela. Você não pode querer que ela tenha os mesmos valores que você. As mesmas atitudes.
Mesmo que pareça que a vida dela tenha sido mais fácil, ou privilegiada (palavra da moda), você não pode saber como foi. Você viveu 24 horas no lugar dela? E mesmo se tivesse vivido uma vida inteira, suas reações poderiam ter sido diferentes. Diferentes das delas? Certamente, mas também diferentes do que você é hoje. Então, a você de hoje, não tem o direito de julgá-la e principalmente condená-la, entende?
Você não pode querer que ela mude para se encaixar a você. Quem te disse que ela tem esse defeito que você acha que tem? Que ela faz de sacanagem só pra te afetar? O mundo não gira em torno do seu umbigo, neném, mas dentro dele, saca? Há muita coisa que você constrói na sua mente (e que só existe dentro de você) que te faz mal e você não vê. Como estas suposições do que ela sente ou acha de você.
Na hora da raiva, muita gente fala merda. Eu, inclusive. Mas este texto não é sobre mim, é sobre nós.
O fato é que se eu mesma me arrependo de merdas que eu falo de mim mesma, do que faço, ou não faço por mim, como não me arrependeria do que disse a outro que não seja eu?
Você já falou o que não devia? Você já mudou de ideia sobre alguém? Já parou pra pensar que muita, mas muita gente mesmo nessa vida, sem nem perceber, desconta nos outros a própria agressividade acumulada por acontecimentos anteriores ou por traumas pessoais? Nós somos um ambulatório de traumas ambulante, bebê.
E este texto não é sobre mim, mas também é. É sobre mim e você. E, por você, entenda: todo mundo que me lê e que em algum momento passou pelo que acabei de dizer. O mundo é muito maior do que eu e você.