A CRÍTICA DA CRÍTICA
O cinema brasileiro está arrasando. Depois de “O Filme da minha vida”, “João, o maestro” e “Bingo, o Rei das Manhãs”, agora vem “Como nossos pais”, da diretora Laís Bodanzky e o seu notável domínio de câmera. O filme é centrado na personagem de Maria Ribeiro, nos deixando em dúvida se ela é ficção ou se é seu papel na vida real, tamanha a fidedignidade com que se expressa. Estressada com o dia a dia e a dificuldade entre conciliar tantas tarefas dentre mãe, filha e esposa, nessa ordem, e a sua fragilidade, insegurança, incapacidade para transgredir e capacidade para projetar sobre o homem suas reais necessidades no afã dele atender sua incompletude. As personagens femininas (até as filhas) são vigorosas, mas frustradas, enquanto os homens, bananas, exploradores, chinfrins e enganadores. Um painel variado de relacionamentos nos é exibido, que choca diante da constatação de que nós, seres humanos, somos cheios de falhas, contaminados por tantos vícios insanáveis. Procura-se juntar as peças, mas isso não leva a lugar nenhum. A não ser ao inferno doméstico, a que se segue uma falsa reconciliação, em que se evita jogar luz sobre seu lado mais obscuro. Ao inevitável beco sem saída no instante em que Maria Ribeiro questiona dramaticamente seu marido Paulo Vilhena: até quando vamos contar mentiras um para o outro no relacionamento? A melhor relação explorada no filme é a da mãe, a estupenda Clarisse Abujamra, desmontando contundentemente a sensação de fracasso com que a filha Maria Ribeiro tenta enredar os outros na mesma teia em que foi fisgada, da qual não consegue escapar. O maior derrotado é a obsessão pela verdade no amor, se imperfeição, incompletude e solidão fazem parte da organização estrutural do homem. Perseguir a verdade no afeto pode levar ao caminho da perdição.
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