Inflei meu coração
e o lancei na imensidão
do escuro alto-mar.
Fiz ele de boia,
pra quem quisesse se apoiar.
Muitos náufragos vieram
e eu não estava mais sozinho,
só que um deles tinha espinho
e furou meu coração.
Afundamos todos na escuridão.
Depois eles emergiram
e eu não.
Explorei o fundo do oceano,
revisei todos meus planos
e, de ostra, virei pérola
só depois de muita dor.
Foi então que fiz amor
comigo mesmo ali embaixo.
Fui nadando até um riacho
e soprei meu coração de novo.
Agora, ele me escora
e até ajuda navegantes,
mas não mais como era antes,
não é boia pra quem não quer nadar.
Eu nado com meus braços,
às vezes paro para abraços
e depois sigo o caminho
que tracei até aqui.
Respeito a maré no que ela quer
e fluo nas ondas que tanto temi.