Quando adolescente, o garoto teme o desafio de ser homem e tender à covardia. Por isso, se agrega ao grupo dos homens mais fortes ou destemidos ou aventureiros. Senão, procura um grupo mais fraco para ser o líder. Ou, então, descobre o mundo cruel, baixa a cabeça e aceita ter nascido um fraco.
Como evitar o fracasso sendo um verdadeiro homem? Não basta bafejar seu mau hálito para comprovar que é másculo e, portanto, cheirar mal. Rendendo-se à podridão da carniça nas mandíbulas do leão, com o sangue tingindo seu pelo, a demonstrar que com homem não se brinca.
Ser homem é nascer carregando o complexo de culpa de que veio para aprontar. Não conseguirá sustar o desejo irrefreável de trair por ser homem. Somente arrumando uma namorada que não seja uma mega sena, com a missão de colocá-lo na linha, é que pode alimentar infundada esperança. Posto se encontrar num beco sem saída, a ter que provar para si mesmo que é capaz de dar conta do recado ou alcançar patamares que aparentemente não são para o seu bico, e vangloriar-se de havê-los conquistado. Se não elevar suas metas, acabará presa fácil da frustração e entregar-se-á ao marasmo. Por conseguinte, cultiva a idéia fixa de manter sua cabeça erguida para divisar no horizonte o que o aguarda.
O coração do homem não se cansa de nutrir esperança de um dia pôr as mãos em tudo com que sonhou e se masturbou – o coração no frescor adolescente. Não sossega enquanto não tiver tudo o que quer – o coração de criança. Não é tão somente a lembrança de um vulto de mulher em plenitude que passou por seus devaneios sem dizer adeus. É a desorientada, a frígida, sequiosa de reverter o clima, a verborrágica, a que se faz de desentendida e descamba para o gracejo; até a mulher do próximo! É o coração vagabundo de quem quer abraçar o mundo com as pernas e que não se intimidará em lançar mão de seu arsenal tradicional. Os meios justificam o fim.
O homem se posiciona em estreita vigilância com o Universo, que não mais conspira a seu favor em matéria de conquistar o obscuro objeto do desejo. Os tempos mudaram e o homem não quer admitir ou enxergar. Quer porque quer continuar a provar que é homem – para seu gáudio. Fixado nos sinais de vitalidade se manterem espertos, no sol se levantar todo dia e chover na sua horta. E não se vexar com o coração vagabundo, que ordena a não mudar o time que ainda está ganhando na disputa por afetos.
A imprevidência do homem é total e absoluta. Só quando o apocalipse chegar, sob pressão de uma crise sem precedentes, é que esses seres obsoletos se moverão a uma velocidade paquidérmica, fugindo de um deserto de ideias, que as consumiram todas como autênticos predadores que são, desmatando a si próprios. Suprimindo o oxigênio necessário para renovar o meio ambiente e obscurecendo suas perspectivas.
O coração vagabundo é de uma preguiça incorrigível. Basta-se com o que já fez. Cultiva a sua imagem. Acomoda-se em estreita dessintonia com a efervescência de culturas e conceitos que sofrem com o processo de fritura para substituir o rei morto pelo rei posto. Terão de ceder o lugar. Sem serem consultados. Recolhendo-se à sua insignificância. Sua voz não será mais ouvida. Restando morrer de nostalgia. Pendurado no passado, ninguém sobrevive muito tempo.
Para descobrir que a alma do coração vagabundo semeou vento e colherá tempestades.
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